AIÊ – “O RECANTO DOS ORIXÁS”
Texto: Diógenes Maciel e Marinaldo José da Silva / Desenhos: Diógenes Maciel / Montagem: Cleomar Cabral, Diógenes Maciel, Josiane Telino, Marinaldo da Silva, Maria José (Tuca) da Silva / Orientação: Profa. Dra. Maria Ignez Ayala
Esse estudo combinado de desenhos e textos surge como um dos resultados das várias pesquisas de campo realizadas pela equipe do LEO (Laboratório de Estudos da Oralidade) junto às manifestações da religiosidade afro-brasileira, na cidade de João Pessoa – PB, com especialmente atenção para a umbanda. Desde 1996 estamos fazendo registros sistemáticos das várias festas que compõem o calendário religioso dessas manifestações religiosas, fazendo uso de fotografias, gravações em vídeo e em cassete, com o intuito de observarmos as particularidades relacionadas ao canto, música, poesia e danças, seguindo a trilha deixada pelos estudos dos cocos, realizados neste Laboratório.
As nossas pesquisas se centralizam principalmente no Templo Religioso de Umbanda Nossa Senhora do Carmo, situado no bairro da Torre, em João Pessoa; casa da Ialorixá Maria dos Prazeres. A ordem de louvação aos orixás normalmente é fixa nas festas realizadas neste templo: inicia-se com um ponto de defumação, depois canta-se para Exu e Pombagira; depois Ogum (orixá que abre os caminhos); Odé (outro nome para Oxóssi, deus da caça); Omulu (orixá que tanto traz, quanto cura as doenças); Nanã (a velha iabá); os "Beijinhos" (entidades infantis); Oxum (orixá da beleza, do amor, do ouro e dos rios); Xangô (senhor da pedreira e da justiça); Iansã (que domina os ventos e os eguns); Iemanjá (a mãe sempre farta, rainha do mar) e por fim Orixalá (o senhor da criação, "rei do mundo inteiro").
Os pontos cantados de umbanda pertencem a um conjunto de formas poéticas populares com função e sentido religioso: são poemas simples, sem marca de autoria, ligados intimamente ao canto e a dança e que guardam um universo simbólico onde se misturam tanto elementos herdados dos negros africanos quanto da tradição católico-popular brasileira
É através desses cantos sagrados que se invocam os deuses, os pedidos são feitos e se operam as mudanças na natureza dos espaços sagrados. Podemos atestar a força mágica da voz e das palavras que assumem o status de ponte de ligação entre os fiéis e o Aiê, terra encantada onde moram os orixás. Cantar o ponto é abrir caminho um caminho para a chegada do orixá. No entanto, os pontos são apenas uma parte de um todo simbólico específico de cada entidade, que compreende ainda os trajes que normalmente obedecem a um padrão cromático correspondente a cada orixá, os paramentos, os pontos riscados, as comidas e as lendas, que podem aparecer diluídas nas estruturas internas dos pontos cantados, pois alguns deles têm um caráter narrativo, dando assim continuidade ao ato de contar e recontar as vidas e façanhas dos orixás a cada vez que são trazidos à tona pela memória dos tiradores.
Os desenhos combinados com os pontos cantados de cada orixá, recontam as narrativas e trazem à tona o universo mítico-simbólico desse culto. Dessa forma, o nosso trabalho foi apenas o de juntar os pedaços desse quebra-cabeça que envolvia as várias imagens gravadas em vídeo e em cassete, as fotografias e principalmente, a fala de cada um dos filhos-de-santo que conhecemos, que contavam através dos seus cantos e corpos as lendas de cada entidade, dançando nas festas e abrindo caminhos para a chegada dos deuses.
EXU
É o responsável pela comunicação entre homens e deuses. Domina as porteiras e encruzilhadas. Quando há festa de orixá, Exu sempre recebe a primeira oferenda. É um orixá brincalhão, ousado, bom e ruim ao mesmo tempo. Suas cores são vermelho e preto. Fuma charuto, cachimbo e cigarro. Bebe cachaça, água e mel. Come farofa de dendê, bode e frango. Seu elemento é o fogo.
Ele é capitão da encruzilhada
Ele é
Ele é mensageiro de Ogum
Sua coroa quem lhe deu foi Oxalá
Sua digina quem lhe deu foi Omulu
Ô salve o sol, as estrelas
Salve a lua
Saravá Seu Tranca-Rua
Ele é dono da gira
Ele é dono da rua
OGUM
É o orixá do ferro e da guerra. Abre e domina os caminhos com sua espada. Suas cores são verde e vermelho. Toma cerveja branca. Come farofa de dendê com feijão verde, bode, frango e feijoada. Suas frutas são manga espada e cana-de-açúcar. Seu dia é terça-feira. Seu elemento é o ferro.
Sustenta a gira Ogum
Não deixa a demanda entrar
É hora, é hora, é hora Ogum
É hora de trabalhar
É cavaleiro da Oxum
É remador de Iemanjá
Ele é soldado, ele é guerreiro
É ordenança de Oxalá
ODÉ
Domina as matas. Deus da caça, do verde. Suas cores são verde e branco. Come porco, bode e frango. Suas frutas são melão e sapoti. Seu dia é a quinta-feira. Seu elemento é a mata.
Cadê minha fera braba
Meu tigre devorador ?
Eu atirei ele caiu
Chegou Odé caçador
OMULU
Senhor das doenças. Tanto cura quanto causa, principalmente as doenças de pele. Ele foi abandonado por ter o corpo coberto por chagas; por isso usa uma veste de palha da costa. Suas cores são branco, preto e vermelho. Come bode, frango e pipoca. Sua fruta é a romã. Seu dia é a segunda-feira. O elemento de Obaluaê, como também, é chamado, é a doença.
Omulu
Baluaê
Omulu
Leva os contrário
Omolu
Limpe os doente
Omolu
Leva as demanda
Omolu tu és
Omulu tu és
Omulu tu és
Defensor de demanda
NANÃ
Deusa das águas barrentas, da lama. É uma senhora velha que domina o lodo dos rios e dos mares. É calma, lenta e constante. Sua comida é cabra, franga e farinha de milho. Sua cor é o roxo. Sua fruta é uva escura. É carinhosamente chamada de “vovó”. Seu dia é o sábado. Seu elemento é o barro, a lama.
Se Nanã Borokê é minha vó
Sou filho de Obaluaê
Eu adorei o seu otá
E seus axés Nanã me deu
IBÊJI
Orixás crianças. Poderosos. São brincalhões, mas trabalham tanto quanto os outros orixás. Suas cores são todas. Comem bolo, cocadas, manjares, caruru, balas e doces. Adoram água com açúcar, mel e guaraná. Seu dia é o domingo. Suas frutas são melancia, banana, maçã, pêra e melão. Seus elementos são os brinquedos e tudo ligado às crianças.
Bêjin também é orixá
Bêjin também é orixá
Terra que bebé chorou
Bêjin, Bêjin
Orixá eu sou
Bêjin, Bêjin
Orixá eu sou
OXUM
Dona do ouro, deusa do amor, rainha das cachoeiras. Materna, bela e vaidosa, delicada e jovem. Adora receber presentes: flores, jóias, espelhos, e perfumes; e banhar-se nas águas dos rios. Coem doce, franga, cabra, bolo, mel, omolucum. Suas frutas são mamão, banana, maçã, melancia, melão, laranja mimo do céu. Sua cor é o amarelo. Seu dia é quinta-feira. Seu elemento é a água doce.
Ari yê yê
Mãe Oxum é um tô
No seu Alá vamo’ saravá
No Oriente já deu sinal
Rainha do ouro
As Oxum vai chegar
Ari yê yê Oxum !
XANGÔ
É o orixá da justiça. Deus dos trovões, das pedreiras. Suas cores são vermelho e branco. Come frango, carneiro, amalá, jerimum. Suas frutas são maçã ejambo. Seu dia é a quarta-feira. Seu elemento é a pedra.
Dizem que Xangô
Mora na pedreira
Mas não é lá sua morada verdadeira
Ele mora no clarão da Lua
Onde mora Santa Bárbara
Oxumaré e Jesus
IANSÃ
Rainha dos ventos, raios e tempestades. É um orixá sensual, muito feminina, guerreira e valente. Usa um chicote para espantar os eguns. Sua cor é o rosa coral. Come cabra, franga, acarajé e cenoura com mel. Suas frutas são jambo, maçã vermelha e manga rosa. Seu dia é quarta-feira. Seu elemento é o vento.
Ô Iansã cadê Ogum?
Foi pro mar
Iansã penteia
Os seus cabelos macios
Quando a luz da lua cheia
Clareia as águas do rio
Ogum sonhava
Com a filha de Nanã
E pensava que as estrelas
Eram os olhos de Iansã
Ô Iansã cadê Ogum?
Foi pro mar
Na terra dos orixás
O amor se dividia
Entre um deus que era de paz
Outro deus que combatia
Mas a luta só termina
Quando existe um vencedor
Iansã virou rainha
Da coroa de Xangô
IEMANJÁ
Orixá maternal. Acolhedora e compreensiva, calma e ativa. Rainha das águas. O mar é a sua morada. É a mãe da maioria dos orixás. Iemanjá não tolera mentira e traição, por isso seus filhos demoram a confiar em alguém. Sua comida é franga de leite, ovelha, milho branco, manjar, arroz com mel. Suas frutas são maçã branca, uva, pêra, melão. Seu dia é o sábado. Sua cor é o azul claro. Seu elemento é o mar.
Foi n’areia
Foi n’areia
Eu fiz um pedido
À mamãe sereia
À Iemanjá
Para nunca mais penar Foi n’areia
Foi numa noite
N’areia branca do mar
A lua lá no céu
Iluminou o meu caminho
Sereia, a Rainha do Mar
OXALÁ
Ao contrário de Exu, Oxalá ou Orixalá é o mais calmo. Pai de todos os orixás simboliza a paz, a pureza, a tranqüilidade. Seu dia é a sexta-feira. Sua cor é o branco. Come frango, pombo, carneiro, inhame, arroz com mel, milho branco. Suas frutas são uva, laranja mimo do céu. Maça branca. Bebe água mineral. Seu elemento é o céu.
Orixalá é o rei do mundo inteiro
Vem abençoar esse gongá
Clareia, meu pai clareia
Lev’as correntes pras ondas do mar
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