quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Os Guias Nos Vêem Como Realmente Somos!



Sabe aquela pessoa que dá a impressão de fazer tudo errado?
Ela é folgada, preguiçosa, rude, bate na mulher, fala mal dos filhos, pisa no rabo do cachorro, falta no trabalho, só vê o lado ruim das coisas, enfim, aquele irmão que a maioria faz questão de se afastar. Bom, um belo dia você chega no terreiro, recebe seu guia, sente aquela energia maravilhosa e, quando menos espera, seu primeiro consulente é aquele irmão de quem você prefere ficar afastado.
Se você for inconsciente não há problema algum, agora se for consciente, ou semi-inconsciente, vai sentir aquele “putz, justo esse cara?”. Sim meus queridos, apesar de estarmos ali, na força do guia, totalmente voltados pra caridade, ainda somos humanos e, muitas vezes, julgamos sem perceber.
Bom, daí o filho chega e o guia dá aquele abraço apertado e gostoso no filho. Nisso você sente que o filho está fedido e cheirando a bebida e lá vai você julgando de novo.
O passe corre tranqüilo. O guia, na sua infinita sabedoria, ama aquele filho. Não importa se ele já roubou, já matou, trata mal todo mundo, chuta o cachorro e etc. Aquele filho, que pra você é o exemplo do que não fazer e, ao invés de tentar aprender com os erros do seu irmão, você simplesmente se afasta dele, é o filho mais lindo pro seu guia. Sim! Sabe por quê? Porque enquanto ele estiver ali, na frente do guia, procurando ajuda, é porque lá no fundo existe amor. Um amor escondido, que leva esse filho até o seu guia a pedir ajuda sem nem ele mesmo saber o que está fazendo ali. 
Os guias não enxergam aquilo que somos por fora, eles enxergam aquilo que está dentro de nós. E apesar de muitas vezes acharmos que esse ou aquele irmão já se perdeu, os guias nunca desistem de nós. Porque eles são a face de Deus mais próxima de nós. E Deus nunca abandona.
Então, da próxima vez que você achar que pode julgar alguém que pede ajuda, lembre-se de que cada um está num estágio de evolução. Cada um de nós, inclusive você, precisa aprender a evoluir a cada dia. E Deus nos concede essa evolução, esse aprendizado, através de caminhos que nos parecem tortos porque não são os caminhos convencionais, mas sim caminhos de extrema provação e dificuldade. E vocês podem ter absoluta certeza de que o guia desse filho está sempre com ele. Mesmo quando o guia não pode mover uma palha em prol do filho, porque a caridade só pode ser feita quando a pessoa se deixa ser ajudado, o guia está ali, pra chorar conosco, do nosso lado, dando seu ombro amigo, seu abraço de luz, pra nos consolar.
E de repente, quando menos esperamos, a vida começa a ficar colorida, as coisas começam a dar certo, as provações começam a ser mais brandas. Aquele irmão “torto” começa a ter benefícios na vida, apesar de toda a grosseria, de todos os erros. E você pode pensar “puxa, eu aqui, fazendo a caridade e ele, que só trata todo mundo mal, consegue um emprego melhor, mais dinheiro, mais tranqüilidade”. É meus amigos, aquele irmão tão “torto”, através do amor do guia que você incorpora, vai se deixando levar, sem perceber, para a luz. E a melhoria na vida dele é só um estímulo pra que ele consiga cumprir suas provações até o fim e não desista de tentar se melhorar.
Os guias, apesar de todas as máscaras que usamos no dia a dia, nos enxergam como somos. Não adianta se disfarçar de bonzinho, caridoso, gentil, se lá no fundo você criticar e julgar a todos. Assim como também há muitos que se usam de máscaras de “malvados” pra ocultar o amor que existe em seus corações, mas que os guias, na sua infinita bondade, sabem procurar e achar lá no fundo e trabalhar esse filho que se perdeu através desse amor.

Pensem nisso!

Oferenda de Encruzilhada

Oferenda de Encruzilhada

 

Francisco era seu nome. Homem que conheceu desde muito jovem as dificuldades materiais da vida e acostumado a trabalhar desde o nascer do sol até a noite chegar, agora se aposentava. Saudável e com muita energia, não demonstrava seus cinqüenta e oito anos. Embora de família humilde, recebeu a melhor educação possível transmitida pelo exemplo de seus pais. A única herança que não quis herdar dos progenitores foi à fé. Incrédulo, não seguia nenhuma religião e até zombava delas.
A ociosidade que a aposentadoria trouxe para seu Francisco, o deixava ansioso. Agora que já havia reformado a casa, o galpão, plantado a horta, os dias demoravam muito a passar. Relembrando o dito popular que "cabeça vazia é oficina do mal", em pouco tempo Francisco sentiu vontade de começar a divertir-se já que até então só havia pensado em trabalho. Morando próximo à cidade, ao entardecer resolveu visitar uma casa de diversões que existia por lá. Entre bebidas, mulheres e prazeres, perdeu a noção de tempo e retornava cambaleante já de madrugada, quando ao chegar numa encruzilhada avistou uma luz fraca no chão. Chegando próximo percebeu que ali tinha um "despacho", como chamavam aquilo por lá. Uma bandeja grande onde repousava uma ave morta, velas, charutos e uma garrafa de cachaça, além de outros materiais.
Aliado a sua falta de crença em qualquer coisa, estava agora a bebedeira e todas as energias condizentes ao lugar de onde viera. Com desdém e desaforando com palavrões, juntou a garrafa de bebida e os charutos e chutou o resto do material. Até chegar em casa bebeu quase tudo e fumou alguns charutos.
No outro dia contava para a esposa sobre o "achado" e debochava com sarcasmo. A bondosa mulher, cuja mãe em vida era médium benzedeira, respeitava todas as manifestações ligadas ao mundo espiritual, conforme ensinamentos que havia recebido e por isso chamou a atenção do marido, dizendo-lhe que, se não acreditava deveria pelo menos respeitar. "Não presta mexer com trabalho de encruza", repetia ela preocupada.
Outras noites a cena se repetiu da mesma forma, até o dia em que ao chutar a oferenda, enxergou na sua frente um homem de capa negra, com um chicote trançado na mão. Sua perna paralisou no ar e em pânico saiu pulando numa perna só, caindo e levantando. Por uma boa distância ainda, ouvia a gargalhada daquele homem ressoando no ar.
No outro dia, sentia dor nas costas como se houvesse apanhado e só de lembrar a cena vivida na noite anterior, arrepiava de medo. Temia contar para a esposa, pois sabia que o condenaria novamente pela atitude. Esta, vendo o marido cabisbaixo e triste, perguntou se estava adoentado. Nada respondeu, pois sentia-se como se estivesse, inclusive apresentando febre. Seus sonhos passaram a ser povoados pelo homem de negro e sua gargalhada. Acordava aos gritos e suando muito. Várias noites se repetiram desta maneira, até que resolveu contar para a esposa o que havia acontecido. Ela o aconselhou a tomar umas benzeduras, convidando para ir até um terreiro na vila vizinha. Meio renitente, mas sentindo a necessidade, ele aceitou com um misto de medo e curiosidade.
Após a abertura dos trabalhos com os pontos cantados e orações, ele já se sentia mais tranqüilo. Em frente ao médium que servia de aparelho ao um Caboclo, suas pernas tremiam que mal conseguia parar em pé. Nos ouvidos agora ressoava novamente a gargalhada do homem de negro e seu corpo arrepiava sem parar. Teve vontade de sair correndo daquele lugar, mas suas pernas não o ajudavam. Auxiliado pela esposa e pelo cambono, sentou-se numa cadeira para poder ser atendido pelo caboclo.
-Ogum é que está de ronda...Ogum é que vem rondar... -cantava a corrente, enquanto a entidade limpava com uma espada de São Jorge, o seu corpo etérico impregnado pela energia captada na encruzilhada. Depois com a firmeza característica de sua linha, o caboclo ordenou que ele ficasse de pé e lhe contasse porque estava ali. Desajeitado, mas já mais tranqüilo, falou:
_ Acho que mexi com o que não devia. Andei chutando uns "despachos" na encruzilhada e me apavorei com um homem estranho, que acredito não ser deste mundo...
_ Tranqüilize que tudo o que é possível ver, ouvir e sentir é deste mundo sim. O senhor acha certo ou errado a sua atitude?
_ Ah, eu não sei...Só fazia aquilo por brincadeira. ..
_ E se alguém fosse até a sua casa, chegasse lá chutando os móveis e quebrando tudo, se apoderando de sua comida na hora da refeição, iria gostar?
_ Lógico que não!
_ Pois é meu senhor. Foi o que fez lá na encruzilhada e por várias vezes, não foi?
_ É, foi.
_ O que não nos pertence não pode ser por nós seqüestrado. Não importa se o que estava lá é certo ou errado diante de seu entendimento. Além do físico, aquilo tudo tinha uma duplicata etérica que pertencia a alguém no mundo espiritual, com um objetivo e endereço vibratório certo. Cabe aos homens incrédulos, no mínimo respeitar a crença e atitudes dos outros. Lá estava um trabalho de magia - a cor dela não importa - era magia! Elementos e elementares, além de entidades espirituais, lá estavam atuando, se abastecendo da energia animal e etílica e foram incomodados, desrespeitados. O que o senhor presenciou na figura do homem, nada mais foi que a atuação enérgica de seu Exu guardião lhe colocando no devido lugar, antes que a Lei tivesse que atuar mais duramente. De difícil entendimento com as coisas do espírito, não crendo em nada que não seja palpável, se fez necessário a atuação materializada. Como criança teimosa, precisou da repreensão para só então respeitar. Isso não significa que encruzilhada é lugar de Exu, pelo contrário. Os espíritos que lá buscam se energizar com as oferendas são os chamados quiumbas, espíritos que embora fora do corpo físico, necessitam ainda de energias materiais.
- Exu... cruzes! Isso é coisa do capeta!
Era momento de esclarecer a verdadeira identidade deste guardião da luz tão mal falado. E assim foi feito.
Ao voltar para casa sentia tamanho bem estar, que naquela noite dormiu tranqüilamente depois de muitas noites de sobressalto, quando não, de insônia.
Suas visitas ao terreiro de Umbanda tornavam-se assíduas onde buscava sabedoria, força espiritual e conforto para sua alma. Ele tinha uma missão que se estendia além de aprender a ter fé. Era preciso cumpri-la, por isso em pouco tempo manifestava- se através dele, seu protetor Ogum de Ronda abrindo caminho para o Exu, que chegava gargalhando e de chicote na mão. Artefatos que usava no astral para auxiliar, acordando a todos quantos estivessem esbarrando nos limites da Lei.
Ao sentir sua presença, Francisco agradecia. Ele foi privilegiado em conhecer estes artefatos, graças a Deus.
História Contada por Vovó Benta - Leni W. Saviscki

AIÊ – “O RECANTO DOS ORIXÁS”

AIÊ – “O RECANTO DOS ORIXÁS”
Texto: Diógenes Maciel e Marinaldo José da Silva / Desenhos: Diógenes Maciel / Montagem: Cleomar Cabral, Diógenes Maciel, Josiane Telino, Marinaldo da Silva, Maria José (Tuca) da Silva / Orientação: Profa. Dra. Maria Ignez Ayala

Esse estudo combinado de desenhos e textos surge como um dos resultados das várias pesquisas de campo realizadas pela equipe do LEO (Laboratório de Estudos da Oralidade) junto às manifestações da religiosidade afro-brasileira, na cidade de João Pessoa – PB, com especialmente atenção para a umbanda. Desde 1996 estamos fazendo registros sistemáticos das várias festas que compõem o calendário religioso dessas manifestações religiosas, fazendo uso de fotografias, gravações em vídeo e em cassete, com o intuito de observarmos as particularidades relacionadas ao canto, música, poesia e danças, seguindo a trilha deixada pelos estudos dos cocos, realizados neste Laboratório.
As nossas pesquisas se centralizam principalmente no Templo Religioso de Umbanda Nossa Senhora do Carmo, situado no bairro da Torre, em João Pessoa; casa da Ialorixá Maria dos Prazeres. A ordem de louvação aos orixás normalmente é fixa nas festas realizadas neste templo: inicia-se com um ponto de defumação, depois canta-se para Exu e Pombagira; depois Ogum (orixá que abre os caminhos); Odé (outro nome para Oxóssi, deus da caça); Omulu (orixá que tanto traz, quanto cura as doenças); Nanã (a velha iabá); os "Beijinhos" (entidades infantis); Oxum (orixá da beleza, do amor, do ouro e dos rios); Xangô (senhor da pedreira e da justiça); Iansã (que domina os ventos e os eguns); Iemanjá (a mãe sempre farta, rainha do mar) e por fim Orixalá (o senhor da criação, "rei do mundo inteiro").
Os pontos cantados de umbanda pertencem a um conjunto de formas poéticas populares com função e sentido religioso: são poemas simples, sem marca de autoria, ligados intimamente ao canto e a dança e que guardam um universo simbólico onde se misturam tanto elementos herdados dos negros africanos quanto da tradição católico-popular brasileira
É através desses cantos sagrados que se invocam os deuses, os pedidos são feitos e se operam as mudanças na natureza dos espaços sagrados. Podemos atestar a força mágica da voz e das palavras que assumem o status de ponte de ligação entre os fiéis e o Aiê, terra encantada onde moram os orixás. Cantar o ponto é abrir caminho um caminho para a chegada do orixá. No entanto, os pontos são apenas uma parte de um todo simbólico específico de cada entidade, que compreende ainda os trajes que normalmente obedecem a um padrão cromático correspondente a cada orixá, os paramentos, os pontos riscados, as comidas e as lendas, que podem aparecer diluídas nas estruturas internas dos pontos cantados, pois alguns deles têm um caráter narrativo, dando assim continuidade ao ato de contar e recontar as vidas e façanhas dos orixás a cada vez que são trazidos à tona pela memória dos tiradores.
Os desenhos combinados com os pontos cantados de cada orixá, recontam as narrativas e trazem à tona o universo mítico-simbólico desse culto. Dessa forma, o nosso trabalho foi apenas o de juntar os pedaços desse quebra-cabeça que envolvia as várias imagens gravadas em vídeo e em cassete, as fotografias e principalmente, a fala de cada um dos filhos-de-santo que conhecemos, que contavam através dos seus cantos e corpos as lendas de cada entidade, dançando nas festas e abrindo caminhos para a chegada dos deuses.

EXU

É o responsável pela comunicação entre homens e deuses. Domina as porteiras e encruzilhadas. Quando há festa de orixá, Exu sempre recebe a primeira oferenda. É um orixá brincalhão, ousado, bom e ruim ao mesmo tempo. Suas cores são vermelho e preto. Fuma charuto, cachimbo e cigarro. Bebe cachaça, água e mel. Come farofa de dendê, bode e frango. Seu elemento é o fogo.

Ele é capitão da encruzilhada
Ele é
Ele é mensageiro de Ogum
Sua coroa quem lhe deu foi Oxalá
Sua digina quem lhe deu foi Omulu
Ô salve o sol, as estrelas
Salve a lua
Saravá Seu Tranca-Rua
Ele é dono da gira
Ele é dono da rua

OGUM
É o orixá do ferro e da guerra. Abre e domina os caminhos com sua espada. Suas cores são verde e vermelho. Toma cerveja branca. Come farofa de dendê com feijão verde, bode, frango e feijoada. Suas frutas são manga espada e cana-de-açúcar. Seu dia é terça-feira. Seu elemento é o ferro.
Sustenta a gira Ogum
Não deixa a demanda entrar
É hora, é hora, é hora Ogum
É hora de trabalhar
É cavaleiro da Oxum
É remador de Iemanjá
Ele é soldado, ele é guerreiro
É ordenança de Oxalá

ODÉ

Domina as matas. Deus da caça, do verde. Suas cores são verde e branco. Come porco, bode e frango. Suas frutas são melão e sapoti. Seu dia é a quinta-feira. Seu elemento é a mata.
Cadê minha fera braba
Meu tigre devorador ?
Eu atirei ele caiu
Chegou Odé caçador


OMULU

Senhor das doenças. Tanto cura quanto causa, principalmente as doenças de pele. Ele foi abandonado por ter o corpo coberto por chagas; por isso usa uma veste de palha da costa. Suas cores são branco, preto e vermelho. Come bode, frango e pipoca. Sua fruta é a romã. Seu dia é a segunda-feira. O elemento de Obaluaê, como também, é chamado, é a doença.
Omulu
Baluaê
Omulu
Leva os contrário
Omolu
Limpe os doente
Omolu
Leva as demanda
Omolu tu és
Omulu tu és
Omulu tu és
Defensor de demanda

NANÃ

Deusa das águas barrentas, da lama. É uma senhora velha que domina o lodo dos rios e dos mares. É calma, lenta e constante. Sua comida é cabra, franga e farinha de milho. Sua cor é o roxo. Sua fruta é uva escura. É carinhosamente chamada de “vovó”. Seu dia é o sábado. Seu elemento é o barro, a lama.

Se Nanã Borokê é minha vó
Sou filho de Obaluaê
Eu adorei o seu otá
E seus axés Nanã me deu

IBÊJI

Orixás crianças. Poderosos. São brincalhões, mas trabalham tanto quanto os outros orixás. Suas cores são todas. Comem bolo, cocadas, manjares, caruru, balas e doces. Adoram água com açúcar, mel e guaraná. Seu dia é o domingo. Suas frutas são melancia, banana, maçã, pêra e melão. Seus elementos são os brinquedos e tudo ligado às crianças.

Bêjin também é orixá
Bêjin também é orixá
Terra que bebé chorou
Bêjin, Bêjin
Orixá eu sou
Bêjin, Bêjin
Orixá eu sou


OXUM

Dona do ouro, deusa do amor, rainha das cachoeiras. Materna, bela e vaidosa, delicada e jovem. Adora receber presentes: flores, jóias, espelhos, e perfumes; e banhar-se nas águas dos rios. Coem doce, franga, cabra, bolo, mel, omolucum. Suas frutas são mamão, banana, maçã, melancia, melão, laranja mimo do céu. Sua cor é o amarelo. Seu dia é quinta-feira. Seu elemento é a água doce.
Ari yê yê
Mãe Oxum é um tô
No seu Alá vamo’ saravá
No Oriente já deu sinal
Rainha do ouro
As Oxum vai chegar
Ari yê yê Oxum !


XANGÔ

É o orixá da justiça. Deus dos trovões, das pedreiras. Suas cores são vermelho e branco. Come frango, carneiro, amalá, jerimum. Suas frutas são maçã ejambo. Seu dia é a quarta-feira. Seu elemento é a pedra.

Dizem que Xangô
Mora na pedreira
Mas não é lá sua morada verdadeira
Ele mora no clarão da Lua
Onde mora Santa Bárbara
Oxumaré e Jesus

IANSÃ

Rainha dos ventos, raios e tempestades. É um orixá sensual, muito feminina, guerreira e valente. Usa um chicote para espantar os eguns. Sua cor é o rosa coral. Come cabra, franga, acarajé e cenoura com mel. Suas frutas são jambo, maçã vermelha e manga rosa. Seu dia é quarta-feira. Seu elemento é o vento.
Ô Iansã cadê Ogum?
Foi pro mar
Iansã penteia
Os seus cabelos macios
Quando a luz da lua cheia
Clareia as águas do rio
Ogum sonhava
Com a filha de Nanã
E pensava que as estrelas
Eram os olhos de Iansã
Ô Iansã cadê Ogum?
Foi pro mar
Na terra dos orixás
O amor se dividia
Entre um deus que era de paz
Outro deus que combatia
Mas a luta só termina
Quando existe um vencedor
Iansã virou rainha
Da coroa de Xangô
IEMANJÁ

Orixá maternal. Acolhedora e compreensiva, calma e ativa. Rainha das águas. O mar é a sua morada. É a mãe da maioria dos orixás. Iemanjá não tolera mentira e traição, por isso seus filhos demoram a confiar em alguém. Sua comida é franga de leite, ovelha, milho branco, manjar, arroz com mel. Suas frutas são maçã branca, uva, pêra, melão. Seu dia é o sábado. Sua cor é o azul claro. Seu elemento é o mar.

Foi n’areia
Foi n’areia
Eu fiz um pedido
À mamãe sereia
À Iemanjá
Para nunca mais penar Foi n’areia
Foi numa noite
N’areia branca do mar
A lua lá no céu
Iluminou o meu caminho
Sereia, a Rainha do Mar
OXALÁ

Ao contrário de Exu, Oxalá ou Orixalá é o mais calmo. Pai de todos os orixás simboliza a paz, a pureza, a tranqüilidade. Seu dia é a sexta-feira. Sua cor é o branco. Come frango, pombo, carneiro, inhame, arroz com mel, milho branco. Suas frutas são uva, laranja mimo do céu. Maça branca. Bebe água mineral. Seu elemento é o céu.

Orixalá é o rei do mundo inteiro
Vem abençoar esse gongá
Clareia, meu pai clareia
Lev’as correntes pras ondas do mar

domingo, 1 de agosto de 2010

Vendo Feitura de Santo

Retirado do blog de Pai Caio de Omulu

Observação: As palavras que estão com essa cor + os termos da tabela 1 tem o seu significado no Glossário ao final do texto.

I - Introdução

O tema desse nosso artigo, já sabemos, causará polêmica e oposições muito fortes, no entanto, se faz necessário que ele seja colocado.
No objetivo desse blog, deixamos claro, que realizaríamos um trabalho independente, sem nos prendermos a tabus, dogmas, mistérios, mitos ou erós (segredos). Em pleno séc. XXI, não é mais possível, que na Umbanda existam assuntos proibidos, temas inquestionáveis, mitos, lendas e certas práticas que, se corretamente fundamentadas na sua origem, são perpetuadas e disseminadas de forma errada atendendo aos interesses de poucos. Todo umbandista é um livre-pensador e é exatamente na prática dessa liberdade, que cabe ao adepto realizar o desenvolvimento dos seus conhecimentos, o estudo permanente da religião, as reflexões sobre todos os assuntos espirituais, o pleno exercício racional da sua fé, uma auto-análise sincera e uma crítica responsável.
Sim, é necessário que o filho-de-fé, exerça o seu direito a crítica. A Umbanda precisa, que o movimento umbandista, cada vez mais, dentro do plano traçado por sua hierarquia superior, contribua para evolução planetária e para que isso seja alcançado muita coisa precisa ser mudada. Não se conquista evolução sem mudança e toda mudança exige respeito ao passado, modificação no presente e que se agregue algo novo para o futuro.
A Umbanda é uma religião dinâmica, transformadora e não estática, parada no tempo e no espaço. Isso significa dizer, que na Umbanda, tudo se modifica continuamente, o novo quando não substitui, transforma o velho ou renova o que já existe. O movimento umbandista, não é um universo religioso acabado, pronto e perfeito, ele está em constante ebulição, como a sua própria denominação revela, em pleno movimento, em constante modificação, ou seja sofrendo um processo de mudança permanente. Por isso, deve ser diariamente trabalhado, completamente estudado e continuamente criticado, para cumprirmos as metas traçadas pelo mundo espiritual. E quem deve fazer esse trabalho, senão os umbandistas, que são os principais colaboradores e participantes dessa Obra Divina.
Entretanto, somente se consegue criticar algo, quando se pratica mesmo que inconsciente, o exercício da dúvida. Esse exercício é um método, que consiste em questionar a veracidade de algo, chegando totalmente a sua negação e depois construir, através do raciocínio lógico, da pesquisa e do uso da razão, a certeza e a verdade novamente.
É, totalmente, consciente desse meu direito de refletir, pensar e estudar a Umbanda, que apresento esse estudo sobre o processo de iniciação (feitura de santo), dentro do movimento umbandista, mais particularmente na Escola ou Culto Omolocô e diretamente sobre a minha experiência como inciado. A necessidade de obter, por mim mesmo, a constatação de tais ensinamentos, começou a surgir na minha frente, logo depois da publicação do meu livro "Umbanda Omolocô - Liturgia, Rito e Convergência na visão de um adepto" publicado pela Ed. Ícone em 2002.
Os estudos que realizei sobre o Culto Omolocô e o aprofundamento nas doutrinas de outras escolas do movimento umbandista, ampliaram a minha visão e me permitiram chegar a uma série de deduções, que apresento para apreciação de todos. Em suma, coloquei em dúvida os ensinamentos a mim ministrados e fui a busca de obter as certezas de suas veracidades, caso contrário, de descobrir o fundamento exato.
Posto isso, não pretendo que ninguém adote o meu posicionamento, ou acredite no que será exposto aqui, mas acho extremamente necessário apresentar um novo ângulo, sobre algo que mexe e transforma completamente a vida espiritual de tantos adeptos.
Quem tiver ouvidos para escutar e olhos para enxergar, que tirem suas próprias conclusões.
II - Considerações Gerais sobre Iniciação
Desde as Escolas de Mistérios do antigo Egito, que um processo de Iniciação significa um conjunto de rituais, que não tem outro objetivo, senão o de causar um impacto espiritual na alma, na mente, no coração e no corpo físico do iniciante. Esse impacto visa a permitir que determinadas leis espirituais, deixem de existir apenas no nível consciente do iniciante (fase do "eu acredito"), se tornando parte do seu nível inconsciente (fase do "eu vivencio plenamente"). Para isso, todo ritual de iniciação trabalha os níveis psíquicos (espirituais), psicológicos (mentais), emocionais (intuitivos) e físico (material) do neófito (aquele que está se candidatando a uma iniciação).
No Egito antigo e em muitos processos iniciáticos no decorrer do tempo, o candidato passava por provas dividas em três etapas: provas físicas, nas quais se testavam a sua resistência e coragem; as provas morais, nas quais eram testados o seu caráter, valores morais e integridade; e as provas espirituais, em que se faziam testes para verificar a sua capacidade de contato com o mundo espiritual, seus dons e poderes.
Em um ritual de iniciação, todo neófito, sai dele transformado. Deixa-se o velho e substitui-se pelo novo, ou como dizem, liberta-se de uma situação profana e vive-se a partir daí uma íntima ligação com o Sagrado. A Iniciação é um processo de harmonização com o Sagrado e o Mestre Interior que habita dentro nós e que outro não é do que a nossa essência divina.
Assim, todas as ordens esotéricas (Maçonaria, Rosacruz entre outras), todas as religiões, possuem suas iniciações ricas em simbolismos, impactantes em seus rituais e repletas de liturgias representativas da sua concepção específica do Sagrado.
O processo iniciático deve permitir portanto, a experiência mística, caso contrário representa apenas um ritual simbólico. Sem gerar uma vivência espiritual profunda e transformadora, se torna apenas um rito formal e que eleva o iniciante a uma condição hierárquica superior na coletividade que ele pertence. Ao se passar por uma iniciação, perante os outros (não-iniciados), passamos a pertencer a um seleto grupo, e adquirimos uma posição superior.
III - A Iniciação no Culto Omolocô
Como já escrevi em meu artigo "Os Filhos da Natureza estão órfãos e não sabem", o Culto Omolocô surgiu (década de 40 em diante) como uma resposta, do Tata Ti Inkice Tancredo da Silva Pinto, a tentativa de alguns umbandistas, em realizar uma aproximação com o Espiritismo e de afastamento das origens africanas, dos seus cultos e religiosidade. Para isso, Tancredo radicalizou em um caminho inverso, ou seja, aproximação com o Candomblé e os Cultos Afro-brasileiros e a origem africana da Umbanda, organizando o que vulgarmente se denominou de Umbandomblé, e que eu denomino de processo de Candomblelização da Umbanda. O Tata Tancredo defendeu, de forma veemente, que essa seria a Umbanda verdadeira.
Assim, o Culto Omolocô adotou de forma semelhante, mas não idêntica todos os processos e iniciação do Candomblé, ou pelo menos, se baseou em seus fundamentos para tal fim. Como uma religião que congrega em suas diversas nações a herança legítima dos cultos africanos, o Candomblé serviu de fundamentação para organização de ritos e liturgias do Culto Omolocô. Isso é bem visível, na forma pelo qual, o Omolocô trata tudo o que se refere a Orixá em seu culto. Utilizamos as mesmas comidas-de-santo do Candomblé, as mesmas ervas, fazemos o bori frio, respeitamos o xiré, temos o roncó, realizamos feituras-de-santo, utilizamo-nos do sacrifício de animais, as vestimentas e armas dos Orixás são quase idênticas, bolamos com o santo, o fardamento dos filhos-de-santo são semelhantes, os níveis hierárquicos são equivalentes, os símbolos e objetos consagrados são os mesmos (ex. o otá, a quartinha, a louça do santo etc.), cantamos rezas em dialeto, temos saídas de santo e entregamos o deká, entre tantas coisas em comum.
Com relação ao processo de iniciação as semelhanças continuam, embora, como já disse, a forma não seja idêntica.Temos então, no processo de iniciação do Omolocô ou feitura de santo em comparação com o Candomblé e suas nações, a seguinte tabela-resumo:



Nessa pequena tabela-resumo, podemos perceber, claramente, que o Culto Omolocô tem seus alicerces ritualísticos e litúrgicos, em relação ao seu panteão (conjunto de divindades) formado pelos Orixás, plenamente entrelaçados com o Candomblé.
Ao dividir esse seu universo de atuação, com as entidades espirituais (caboclos, pretos-velhos, crianças etc.), seus simbolismos e objetos de trabalho, o Omolocô passou a ser um Candomblé de Caboclo ampliado.
Tudo isso, tem um motivo de ser, no papel que a Escola Omolocô tem no movimento umbandista, completamente explicado tanto no meu livro, como no artigo já citado.
O que eu considero de suma importância para minha linha de raciocínio atual é o significado e o objetivo da iniciação (feitura de santo), e a forma como ela é usada no Culto Omolocô.
IV - Significado e Objetivo da Iniciação no Culto Omolocô
Como no Candomblé e demais Cultos Afro-brasileiros a feitura de santo é um ritual para que o iniciado ou iaô, seja harmonizado ou consagrado ao Orixá que ele pertence. E mais, é uma via ou caminho para a ordenação sacerdotal do iniciado, assim ele manifeste seu desejo e/ou seja confirmado pelos oráculos (búzios/ifá). Caso ele não deseje e/ou não seja confirmado o seu destino sacerdotal, torna-se um meio para que o iniciado venha ocupar um cargo na hierarquia do terreiro e do culto.
Aqui começa o resultado dos estudos que realizei, as minhas reflexões e as conclusões que cheguei sobre o sistema de iniciação por mim vivenciado.
Cada ponto a seguir está dividido nas seguintes partes: Ensinamentos (conforme me foi passado), Estudos (análise e deduções que cheguei na minha busca pelo fundamento dos Ensinamentos) e Conclusão (resultado que se chega com as deduções e análises dos Estudos).
V.1 - Quantidade de Órixas que devem ser feitos
ENSINAMENTOS:
A Iniciação somente pode ser através da feitura de santo. O filho-de-santo pode fazer um Orixá, preferencialmente dois e idealmente quatro, mas para chegar a condição sacerdotal de Pai/Mãe-de-Santo no Omolocô deve fazer nove Orixás.
O primeiro Orixá ou Santo, como se diz, a ser feito é sempre o principal ou da frente (se for Orixá masculino é chamado de Pai e se feminino de Mãe).
No caso de dois Orixás serão feitos o principal + um segundo. Nesse caso será um Orixá masculino, se o principal for Orixá feminino ou feminino, se o Orixá principal for masculino. Na feitura de quatro Orixás são feitos o principal + o segundo + outros dois.
Nove são os Orixás cultuados pelo Omolocô (Nanã, Omulu, Ogum, Oxum, Iansã, Xangô, Oxossi, Yemanjá e Oxalá).
O Orixá da frente ou principal é o Orixá correspondente ao dia da semana, da data de nascimento do iniciante, segundo o calendário do culto, ele determina o que você é nessa reencarnação, e é o Orixá que predomina na sua existência atual.
O segundo Orixá é o correspondente direto ao Orixá principal (formam um par), chamado de Orixá ascendente, ele determina o que você aparenta ser ou sua imagem. Esse Orixá sempre visa o nosso equilíbrio íntimo e crescimento interno permanente. É por isso, que preferencialmente, o iniciante deve procurar fazer os dois primeiros Orixás. É o par que proporciona ou busca o equilíbrio do filho-de-santo.
No caso da feitura de quatro Orixás a explicação é porque esse número representa a estabilidade (ex: uma cadeira fica firme no chão porque tem quatro pernas, e assim por diante), nesta visão, por exemplo, a feitura de três Orixás deixa o filho-de-santo sem estabilidade.
Já a necessidade de se fazer os nove Orixás, para poder ser sacerdote, parte do princípio que não se pode fazer o Orixá de alguém sem ter esse Orixá feito.
Os nove Orixás formam o círculo ou coroa do nosso Orí em que cada Orixá possui uma respectiva casa astral (posicionamento cabalístico no alto da nossa cabeça).
ESTUDO:
A bem da verdade, todos nós possuímos três Orixás principais. Juntos eles formam um triângulo de forças regentes e predominantes no nosso Orí (cabeça).
Por que um triângulo e não um círculo ou coroa como nos foi ensinado?
O círculo surge no Omolocô, com base nos estudos cabalísticos desenvolvidos pelo Tata Ti Inkice Tancredo para alicerçar a doutrina do culto.
Nesses brilhantes estudos para a época, o Tata Tancredo buscava através da numerologia, da cabala dos nomes e dos símbolos formatar todas as teorias do Omolocô para a origem e genealogia dos Orixás,a origem do universo, e a gênese e evolução humana e espiritual.
O círculo ou 360 graus (cuja a numerologia 3+6+0=9), foi a base geométrica e aritmética para construção dessa cabala.
Em termos de Teogonia (Estudo dos Orixás), Cosmogonia (Estudo do Universo) e do processo evolutivo do espírito essa base circular funciona perfeitamente para argumentação, já na questão da regência dos Orixás não.
O triângulo é a representação correta para a principal lei que rege todo o processo evolutivo do nosso Universo. Essa Lei se chama Lei de Manifestação.
Todos nós e tudo o que existe no Universo, surgiu, se mantém e sobrevive graças a essa Lei.
A Lei de Manifestação é um arcano (mistério) divino que determina, que nesse nosso universo algo, somente se manifesta ou existe, se houver a ação conjunta de dois pontos (base do triângulo). Assim a ação de dois pontos gera a manifestação de um terceiro (ponta do triângulo).

O filósofo, matemático e ocultista Pitágoras (571-70 a.C.), eninava em sua Ordem iniciática que "a primeira manifestação de algo estruturado no Universo só ocorre quando da manifestação de três ângulos - triângulo. A primeira manifestação do UM é do TRÊS, no qual está contido o DOIS. Esta é a forma como os pitagóricos explicam a Trindade, do três em UM. É pela geometria que nós pitagóricos procuramos entender o universo as coisas nele existentes, a relação entre as coisas e os eventos".

Já Pietro Ubaldi (1886-1972), última reencarnação do apóstolo Pedro na Terra e considerado por muitos como o Profeta do IIIo. Milênio, em umas das suas principais obras A Grande Síntese (escreveu 24 inspirado por quem ele chamou apenas de "Sua Voz" - Jesus Cristo), que existe "uma Lei Única que dirige o Universo, e que o nosso Universo é trifásico e as suas fases são: Matéria, Energia e Espírito". Como consequência desse seu estudo são gerados os seguintes triângulos de manifestação da Lei de Deus:

O triângulo e sua Lei de Manifestação, portanto, é consequência do que existe de mais sagrado em todas as religiões - a Trindade. No Omolocô essa trindade é Zambi Apongô (Deus Supremo); Zambira (Mãe criadeira) e Alufan (o filho).

Na correspondência com o sincretismo católico, para uma melhor compreensão é Deus-Pai, o Espírito Santo e o Filho (Cristo).

Na correspondência triangular a Lei se apresenta. A base do Triângulo é o poder de Deus (Zambi-Apongô), mais a sua manifestação criadora (Zambira ou Espiríto Santo) gerando a Criação (Jesus Cristo/ Alufan/(Filho).

Os Orixás então, tem que corresponder a formação triangular e não circular, tendo em vista que a regência dos Orixás, em nossos orís, existe para MANIFESTAÇÃO de energias em nossa presente reencarnação. A Lei é somente uma, imutável, pois é divina, todos os planos hierárquicos do Universo obedecem a essa Lei Única.
Assim temos, o Orixá principal na ponta do triângulo, o segundo Orixá (adjuntó) e o terceiro Orixá (ancestral ou cabalístico) formando a base do triângulo.

O segundo Orixá (juntó ou adjuntó) é o que faz par com o Orixá principal e que já explicamos a sua função. O terceiro Orixá (ancestral ou cabalístico) é o Orixá da essência divina do filho-de-santo. Se o Orixá principal é o regente da nossa presente reencarnação, o Ancestral ou Cabalístico é o Orixá da origem do nosso ser como espírito. Eis o motivo pelo qual, ele pode vir a substituir o principal em determinados casos. O Orixá principal e o adjuntó muda de reencarnação para reencarnação, já o cabalístico sempre será o mesmo.
Para completar a coerência dessa verdade, basta analisarmos que esta formação triangular também representa as forças manipuladas por esses Orixás regentes, segundo a Tradição Yoruba-Nagô, que serve de base para a gnose do Candomblé e por consequência do Omolocô.

O Iwá é a força do Orixá Cabalístico, o Axé a do Adjuntó e o Abá é a manifestação do Orixá principal.
Geralmente simplifica-se essas forças em uma única denominação que chamamos de Axé, mas na verdade é necessário esta disposição triangular de ação ou o processo trifásico para que haja essa manifestação. Relacionando essas forças a trindade universal temos a seguinte correlação:
IWÁ = (Deus/Zambi Apongô/Orixá Cabalístico) é o ser, o elemento, a força da existência em geral. O Iwá é o gerador da possibilidade de existir.
AXÉ = (Espírito Santo/Zambira/Adjuntó) é o motor, a força dinâmica de realização. Axé é o motor do vir-a-ser.
ABÁ = (Filho/Alufan/Orixá Principal) é a manifestação direcionada a um objetivo.
Essas são forças ou princípios intermediados pelos Orixás, mas originados e de posse de Olorun/Zambi Apongô/Deus.
Iwá e Abá, pelo que vimos, são respectivamente princípios ou forças de origem e de determinação conseqüente e objetiva.
Já o Axé é o agente ou intermediário, o motor que possibilita.
No Universo, que mais uma vez repito, é regido por uma a Lei única, temos três triângulos dispostos hierarquicamente obedecendo a Lei de Manifestação.

Assim, a regência dos Orixás é triangular e não circular, e não envolve os nove Orixás.
No caso do Candomblé, se faz, tão somente, o santo principal exatamente por ser ele a ponta do triângulo ou a resultante da ação da base (adjuntó + cabalístico). Ou como explica a Doutrina Pitagórica, a manifestação do 1 (Orixá principal) é o 3 (triângulo de forças regentes), onde está contido o 2 (adjuntó + cabalístico). Para o Candomblé o Orixá Principal, que recebe a ação conjunta dos Orixás adjuntó e cabalístico (o 2 contido no 3), representa por si só o próprio triângulo (manifestação do 1 é o 3). Então eles (adjuntó+cabalístico) precisam ser apenas conhecidos, cultuados e/ou louvados.

Em outras palavras, a feitura do Orixá principal carrega em si a feitura dos outros dois, sem que seja necessário fazê-los.
Esclarecendo ainda mais, a existência do Orixá principal e sua feitura somente ocorre, por conta da ação direta do outros dois Orixás regentes, o adjuntó e o cabalístico estão implícitos (contidos) na manifestação do Orixá principal.
No Omolocô, um passo a frente, já se trabalha o triângulo, pois sempre quando se faz o par (Orixá Principal + o Adjuntó), o Cabalístico se apresenta ou grita, como se diz.

Com o triângulo dos Orixás regentes feitos, o filho-de-santo se credencia automaticamente ao cargo sacerdotal, sem a necessidade de se fazer os nove Orixás. O motivo é simples, para se fazer o santo de outra pessoa é necessário entre outras coisas possuir a afirmação do seu próprio triângulo regente.
Fazer o Santo é nada mais, nada menos, do que posicionar no Orí do iniciante a correspondência dos seus Orixás regentes, harmonizando esse triângulo com a hierarquia superior correspondente, num crescente até a Trindade Universal (Figura 11).
Então não precisa se ter todos os Orixás no Orí, para que se possa fazer o Santo de qualquer pessoa, precisa-se sim, ter firmado o próprio triângulo regente, para que se possa fazer esse mesmo triângulo nos seus futuros filhos-de-santo.
De forma mais clara ainda, o importante não é se ter todos os Orixás para se fazer o Santo de alguém, e sim ter o posicionamento-função desses Orixás no seu Orí. Esses posicionamentos-funções são somente três: Principal, Adjuntó e Cabalístico. Se todos nós temos esses Orixás, nessa disposição triangular e funções chaves, então quem já possui esses Orixás afirmados pode se credenciar a fazer o mesmo em outras pessoas, não importa quais sejam os Orixás que ocupem essas funções no iniciante.
Outro ponto a ser considerado nesse caso, é o das casas de Omolocô que cultuam 16 Orixás. Será necessário ter os 16 Orixás feitos?
Imagino na época em que se cultuava um panteão ainda maior de Orixás e não só 9 ou 16, como caberia tanto Orixá na cabeça do iniciado.
CONCLUSÃO:
a) Se o Omolocô é um culto fundamentado no Candomblé, e ele é, precisamos ter firmado somente um Orixá, o principal;
b) No Omolocô, três Orixás sim, é o ideal, pois formam o triângulo de forças regentes (Principal, Adjuntó e Cabalístico);
c) Não precisa se ter os nove Orixás na cabeça para, quando formos Pai/Mãe-de-Santo, realizarmos a feitura de qualquer inciante.
V.2 - As Renovações de Santo e os Recolhimentos (Camarinhas) anuais.
ENSINAMENTOS:
É necessário se fazer 7 feituras para cada Orixá afirmado no Orí do iniciado (A primeira feitura + seis renovações).
O motivo para realização das 7 feituras por Orixá afirmado no Orí, é para que o ciclo de afirmação de cada Orixá seja completado.
ESTUDOS:
A iniciação no culto Omolocô tem seu seu ponto alto no tarimbamento do Orixá, no Orí do iniciado. Tarimbar o Santo, como se diz, é marcar o Orí do iniciado com o signo cabalístico do Orixá, ou seja, é riscar no Orí do iniciado o ponto ou sinal do Orixá.
Isso é feito com a ponta de um punhal ritualístico. No momento que isso é feito, pronto, está feito. A marca ritualística fica para sempre, a conjunção de forças ou energias já estão definitivamente firmadas, pois a sua concretização já ocorreu no riscado do ponto, representando assim, um pacto sagrado de sangue (lembrar que o ponto é feito com a ponta de um punhal).
A consagração do Orí do inicado para com seu Orixá, somente faz sentido ser realizado uma única vez. Depois de imantando, consagrado e harmonizado uma vez, não é mais necessário se repetir isso.
Se o tarimbamento é uma tatuagem como dizem, onde já se viu ficar renovando tatuagem, pelo que eu sei uma tatuagem depois de feita, fica como está pelo resto da vida, tanto que às vezes, nem por cirurgia a laser consegue se apagar.
No caso específico, o tarimbamento é uma concretização de uma harmonização astral e definitiva para existência do iniciado.
Para que, então, em nome do bom senso, é necessário se fazer isso por mais seis vezes?
Para que mexer sete vezes na cabeça do iniciado? Tarimbar o Orixá sete vezes?
Se a resposta é pela necessidade de se renovar essa energia, estamos falando de Axé e Axé é movimentado por diversos meios sem a obrigação de ser necessariamente, através do tarimbamento e todo o complexo ritual que o envolve.
Tarimbar o Orixá, mais de uma vez, é realizar uma consagração em cima de outra, é fazer o mesmo pacto, mais de uma vez. Isso não tem lógica. O que foi consagrado, já está consagrado, se fizemos um pacto, esse pacto já está feito.
Se você entregou a cabeça para o Orixá uma vez, como dizemos, já entregou, para que entregar novamente? Para que repetir tudo isso de novo, por mais 6 vezes?
O processo iniciático no Omolocô, tem sim um sentido, os recolhimentos anuais e as camarinhas, sem a renovação do tarimbamento do Orixá, tem seu objetivo, mas por outros motivos.
As maiores autoridades do culto, o Tata Ti Inkice Tancredo da Silva Pinto e N'Ginja Delfina de Oxalá, se manifestaram sobre esse assunto da seguinte forma:
a) O Tata Ti Inkice, no seu livro Tecnologia Ocultista da Umbanda no Brasil, deixa claro nas pág. 66 e 67, que a quantidade de obrigações para se receber o Deká são 4 anos. Que em cada ano o Ioboré (iniciado) come uma das quatro partes do Obi (que na feitura de santo é cortado em quatro partes), recebe por ano 3 guias, completando no final de 4 anos 12 guias, sendo então essas substituída pelo Deká. Cada ano de obrigação, na cabala do Omolocô, que é baseada nos ciclos lunares de 28 dias, correspondem a sete anos. Assim ao se completar os 4 anos de obrigação o Ioboré completou o fechamento de 28 anos de ciclos lunares.
Nas palavras do próprio Tata Ti Inkice "Confirmada a última obrigação (4o. ano) o iniciante receberá em substituição as guias (total de 12), correspondente ao seu Eledá e ao seu adjuntó, o Deká que é a confirmação de cargo hierárquico dentro do culto que lhe pertence: daí por diante ele poderá confirmar um Ioboré". Em outras palavras poderá fazer o santo de outra pessoa independente de qual seja esse Orixá.
b) A N'Ginja Delfina de Oxalá em resposta a pergunta, "Por que devemos dar obrigações de sete anos?" nos ensina o seguinte: "Para aprimorarmos os conhecimentos sacerdotais e responsabilidades, conhecimentos de Erós (segredos), para adquirir posições superiores dentro da hierarquia a seguir:
1a. Obrigação - Iniciação;
2a. Obrigação - Passa a ser Iaô (Filho-de-Santo);
3a. Obrigação - Livre-arbítrio (a escolha da vocação);
4a. Obrigação - Confirmação da vocação (iniciado tem o direito a receber uma comenda que representa seus quatro anos de santo);
5a. Obrigação - Especialização dentro do grau adquirido;
6a. Obrigação - Complementos sacerdotais, preparos definitivos e ajustes necessários mediante ao estudo e análise das condições do iniciado dentro do Santé. Conhecimento do Deká;
7a. Obrigação - Recebimento do Deká, ficando definida a situação do iniciado como Sacerdote do Culto.
OBSERVAÇÃO: Poderá montar a sua própria Casa de Santo, passando então a Babalorixá ou Ialorixá, dependendo do caso, com direito de continuar as suas obrigações anuais (se quiser)".
Nas palavras do Tata Ti Inkice Tancredo, a maior autoridade no Culto Omolocô do Brasil, seu organizador e disseminador, vemos com claridade que ele defendia a feitura de apenas 2 Santos ou Orixás (o principal e o adjuntó ou adjuntor como ele mesmo chamava), por outro lado pregava apenas quatro, repito, QUATRO anos de obrigações para o recebimento do Deká.
Já nos ensinamentos da N'Ginja Delfina de Oxalá descobrimos os verdadeiros objetivos de cada obrigação anual e não renovação, ou seja, para que servem os recolhimentos e camarinhas anuais.
Em estudos posteriores, sabemos que o Tata Ti Inkice fecha questão, juntamente com o Tata Opongô Nilton Rocha Santos e a N'Ginja Delfina de Oxalá, sobre a necessidade de se realizar sete obrigações anuais. O importante, que tanto no caso do Tata Tancredo ou da N'Ginja Delfina, os recolhimentos e camarinhas anuais, não significavam sete feituras, com sete tarimbamentos respectivamente, mas cerimônias ritualísticas, em que o período da camarinha propiciava o aprendizado nos ensinamentos e erós do culto, servia de aprimoramento para o futuro sacerdote ou sacerdotisa.
CONCLUSÃO:
a) Não existe a mínima necessidade de sete feituras de santo (a primeira e mais seis renovações);
b) Existe a necessidade de se ter apenas uma feitura de santo, em que são feitos, segundo o Tata Ti Inkice, o Orixá principal e o adjuntó.
No item V.1, vimos que idealmente, devem ser feitos o triângulo de Orixás regentes (Principal + adjuntó + cabalístico) e só;
c) Os recolhimentos anuais, com suas respectivas camarinhas e cerimônias ritualísticas é um período de aprendizado, em que o dirigente do terreiro ministra ensinamentos para os diversos iniciados, preparando-os para ocupar cargos na hierarquia da casa e para os que desejam na sétima obrigação receber o deká.
V.3 - As Obrigações
ENSINAMENTOS:
É necessário, que seguindo o calendário anual de Festas dos Orixás, todos os iniciados realizem uma matança (sacrifício de animais), no otá do seu respectivo Orixá, caso tenha feitura do mesmo.
O motivo é que nas festas para louvar o Orixá (segundo o calendário do culto), existem as saídas de santo, ou seja os filhos-de-santo (iniciados) que tenham feitura do Orixá a ser comemorado, podem dar saída com ele (incorporá-lo todo paramentado e apresentá-lo ao público presente). Para isso, devem antes do dia da festa realizar uma matança no otá do seu Orixá. No caso de não querer dar a saída com o seu Orixá, mesmo assim, é bom que se faça essa matança, embora que não realizando-a, não signifique que não possa participar da festa. Nesse caso, ele apenas não pode dar saída com o Orixá.
Em ambas situações essa matança ou sacrifício de animal é colocada como uma oferenda necessária ao Orixá.
Outro objetivo, é que para aqueles que terminaram todas as feituras dos Orixás que afirmou em seu Orí (primeira feitura + seis renovações), se faz necessário realizar essa oferenda para fortalecer os otás dos seus Orixás.
ESTUDOS:
Estamos falando novamente de Axé e Axé volto a repetir pode ser movimentado de várias formas, que não necessariamente envolva sacrifício de animais. Para uma melhor compreensão desse assunto, leia o artigo desse blog "Sacrifício de Animais não é tudo!".
Ora, se a questão é ofertar algo para o Orixá a ser comemorado, por que não pode isso ser feito através da comida do santo e outros elementos ritualísticos? Toma-se um banho com as ervas consagradas ao Orixá, se faz um belo de um ossé (limpeza) do símbolos do Orixá, que estão no roncó, arreia-se (oferta-se) a comida do santo, acende-se a vela, enche-se a quartinha de água e pronto a oferenda vai funcionar da mesma forma, sem que seja necessário o envolvimento do Axé vermelho (sangue).
Isso, tanto serve para quem deseja dar a saída com o Orixá na festa, como para quem apenas vai participar da mesma e quer ofertar algo ao seu Orixá nessa data festiva, bem como, para quem já encerrou suas feituras e deseja fortalecer os otás dos Orixás, que tem afirmado no seu Orí.
Outro ponto importante, a deitada (ou recolhimento anual - camarinha) é realizado uma vez por ano pelo iniciado, até ele terminar todo o ciclo de feituras. Assim nessa feitura (renovação) ele já realiza a matança para o Orixá, o qual ele está reafirmando em seu Orí. Pergunta: Por que então, ele tem que fazer novamente essa matança na data comemorativa do Orixá, se no ano ainda em questão ou ele já se recolheu, ou ainda vai se recolher para esse mesmo Orixá? Tá, podem me responder com outra pergunta: Qual é o problema dele matar duas vezes para o santo? Nenhum problema, no entanto, essa deve ser uma via de duas mãos. Se o iniciado pode fazer a matança, mais de uma vez, também deve poder decidir a realizar essa matança no seu recolhimento anual. Acontece, que se o iniciado não fizer a matança na época da festa, isso é contado como obrigação não realizada, sendo considerado como um filho-de-santo devedor dessa obrigação. Se ele quiser dar a saída com o santo na respectiva festividade, não poderá fazê-lo.
CONCLUSÃO:
a) A matança ou sacrifício de animais é totalmente dispensável para se realizar oferendas aos Orixás;
b) O Axé pode ser movimentado de várias formas, sem o envolvimento do axé vermelho.
V.4 - A Via Sacerdotal ou Hierárquica. O Deká.
ENSINAMENTOS:
O filho-de-santo que encerra todo o ciclo de feituras dos nove Orixás, chega a condição necessária para receber o Deká e se desejar, realiza mais algumas obrigações, recebe essa comenda e é então considerado Pai/Mãe-de-Santo.
Como ensinamentos para o exercício de sua condição sacerdotal, recebe uma apostila em que 80% do seu conteúdo consiste em ensinar com se realiza uma feitura de santo no Omolocô.
Com relação a hierarquia, não existe nenhum procedimento para determinar os diversos cargos hierárquicos dentro do culto (veja quais seriam esses cargos no meu livro pag. 176-182). O filho-de-santo pode ser escolhido para exercer um determinado cargo ou função dentro do terreiro por indicação do dirigente ou porque decidiu por vontade própria exercer essa função e conseguiu espaço para isso etc.
Já o Deká, como vimos, é uma comenda, insígnia, que é concedida ao iniciado, se assim ele desejar e que corresponde a última e difinitiva consagração, agora como Babalorixá (Pai-de-Santo) ou Yalorixá (Mãe-de-Santo).
No caso, de ao final dessas sete feituras, se desejar receber o deká, é realizado mais 1 feitura ou renovação dos nove Orixás.
Essa obrigação é denominada de fechamento de círculo, ou seja, mais uma feitura dos 9 orixás com o objetivo de se posicionar corretamente esses Orixás nas casa astrais (posições no Orí do iniciado) correspondentes.
Geralmente a entrega do Deká é através da realização de uma cerimônia festiva, em que, o agora Sacerdote ou Sacerdotisa é apresentado a coletividade. O fato é registrado em ata, assinado pelo oficiante da cerimônia e testemunhas. Na ocasião é também entregue o diploma de Sacerdote ou Sacerdotisa dentro do Culto Omolocô do Brasil.
ESTUDOS:
Nos ensinamentos da N'Ginja Delfina de Oxalá, compreendemos facilmente que os recolhimentos anuais, servem de períodos, para se aprender sobre a religião.
Essas obrigações, num total de sete, visam a cumprir um objetivo básico no Culto Omolocô, semelhante ao que se realiza no Candomblé e nos demais Cultos Afro-brasileiros, que seja a ordenação sacerdotal do iniciado, ou a descoberta e o desenvolvimento de conhecimentos dos filhos-de-santo para se constuir a hierarquia na casa.
Ao final das sete obrigações, o iniciado deve estar de posse de todos os conhecimentos necessários, para que ele possa abrir o seu terreiro e gerar a sua filiação dentro dos fundamentos do culto.
Se reunirmos os estudos realizados nos itens V.1, V.2 e V.4, podemos visualizar que o caminho para se alcançar o sacerdócio do Culto Omolocô passa pelos seguintes passos:
1) A feitura de santo (Triângulo dos Orixás Regentes)
2) As Obrigações Anuais (Aprendizado)
3) O Deká (Confirmação)
A feitura de santo através do triângulo dos Orixás Regentes, já colocou por terra a necessidade das constantes renovações e por consequência, também acaba com a necessidade do fechamento de círculo. Mesmo que as renovações fossem uma realidade, e vimos que não existe base sólida para a sua existência, para que se reposicionar os Orixás nas casas astrais com o fechamento de círculo? Será que nas sete feituras, antes do fechamento de círculo, esses Orixás já não deveriam estar posicionados corretamente? Caso não, por que deixar para posicioná-los corretamente apenas no fechamento de círculo (feitura final)?
Para o Culto Omolocô, na palavra de suas principais autoridades, após a feitura do santo, existem sete obrigações anuais, que permitem ao iniciado, o tempo necessário para descobrir a sua vocação dentro do culto (sacerdócio ou hieráquico). Durante esses recolhimentos anuais, são ministrados ensinamentos e realizados estudos que possibilitem tal descoberta e aprendizado completo.
Se o Tata Ti Inkice Tancredo falava em quatro anos, e posteriormente fechou em sete anos esse período de aprendizado, juntamente com o que a N'Ginja Delfina ensinou aos seus iniciados encontramos o seguinte quadro de formação sacerdotal:
1a. Obrigação - Iniciação (Feitura do Triângulo de Orixás Regentes).
2a. Obrigação - Passa a ser Iaô (Filho-de-Santo).
3a. Obrigação - Livre-arbítrio (a escolha da vocação - Sacerdócio ou ocupar um cargo hierárquico no culto).
4a. Obrigação - Confirmação da vocação (iniciado tem o direito a receber uma comenda que representa seus quatro anos de santo).
Nesse ano específico, o Iniciado completou as 12 guias das entidades, foi-lhe entregue 3 guias por ano, segundo os ensinamentos do culto. As 12 entidades a saber são: Exú, Pomba-gira, Nanã, Omulu, Ogum, Oxum, Iansã, Xangô, Oxossi, Ibeiji, Iemanjá e Oxalá. A Comenda que lhe é entregue, foi nomeada pela N'Ginja Delfina de Oxalá de Contra-Egun, representando a estabilidade alcançada pelo iniciado no culto.
A partir daí o iniciado escolhe um dos dois caminhos possíveis dentro da religião, conforme a definição de sua vocação (sacerdócio ou hieráquico). Se a vocação é para ocupar um cargo hieráquico, ele ainda participa da quinta obrigação, quando aí se especializa na função que vai ocupar. Se a sua vocação for o sacerdócio, ele continua as obrigações, realizando a duas últimas (sexta e sétima obrigação).
5a. Obrigação - Especialização dentro do grau adquirido (Cargo hieráquico e início dos ensinamentos sacerdotais para quem vai continuar as obrigações).
6a. Obrigação - Complementos sacerdotais, preparos definitivos e ajustes necessários, mediante ao estudo e a análise das condições do iniciado dentro do Santé. Conhecimento do Deká.
7a. Obrigação - Recebimento do Deká, ficando definida a situação do iniciado como Sacerdote do Culto. Nesse ponto, é bom esclarecer que as guias (total de 12) são substituídas integralmente pelo uso do Deká, que no caso passa a ser a guia definitiva do Sacerdote.
CONCLUSÃO:
a) O fechamento de círculo é totalmente desnecessário;
b) O caminho do aprendizado existe dentro do culto, através das obrigações anuais;
c) As obrigações anuais, são sim camarinhas e recolhimentos, sem a necessidade de renovações de santo, tarimbamentos etc., para os que já foram iniciados. O que se procura fazer, nessas ocasiões, é realizar ritos apropriados e reuniões de ensinamentos e orientações, em que os fundamentos do Omolocô são passados para a futura hierarquia e os que exercerão o sacerdócio.
d) Nas quatro primeiras obrigações o iniciado define a sua vocação (Cargo hierárquico ou Sacerdócio), na quinta, se a vocação for cargo hierárquico, o iniciado se especializa, se for sacerdócio, começa os estudos voltados para esse fim.
e) Na sétima obrigação recebe o seu Deká.
f) O Deká passa a ser a única guia do Babalorixá/Yalorixá. Devendo ser usado em todas as reuniões, cerimônias e festividades do culto.
VI - Conclusão Geral
Diante do que eu exponho aqui, acredito ter oferecido um material rico para estudo, reflexão que permitam as pessoas chegarem as suas próprias conclusões.
Evidentemente que não tenho a palavra final sobre o assunto, nem fiz isso no intuito de convencer ninguém. O que me moveu, foi a necessidade de demonstrar que tudo na vida deve e pode ser questionado, que devemos ter fé, mas sempre exercitando ela de forma racional, analítica e crítica. É importante, que sempre conquistemos as certezas daquilo que acreditamos, por si mesmos, não importa se constatamos as suas veracidades ou não. Importante salientar, nesse instante, que todo o processo iniciático pelo qual passei, teve a minha total aprovação e foi da minha livre e espontânea vontade participar.
Cabia, tão somente a mim, o direito de na época ter refletido melhor sobre a situação apresentada e chegado as conclusões, que somente visualizei um certo tempo depois. Nesse período eu não me permitia a ter esses tipos de questionamentos, nem me passava pela cabeça, qualquer outra possibilidade, que não fosse da forma como me era ensinado.
A verdade é que o Omolocô, entrou na minha vida de umbandista, envolvido por uma explicação, fornecida na época, que ele significaria uma evolução espiritual para Umbanda que praticávamos.
Passado esses anos todos, não dá para perceber o que esta evolução significou, mas com certeza, sou eu o culpado, em não conseguir enxergar esse salto de qualidade, que o Omolocô nos proporcionou.
Devo estar completamente cego, para a beleza dos nossos fardamentos, que se transformaram de roupas simples e tecidos humildes, para roupas caras e vistosas, com tecidos de primeira qualidade; talvez eu não consiga perceber a maravilha que é hoje, os paramentos luxuosos dos Orixás, nas saídas-de-santo; ou quem sabe, não peso devidamente a evolução que foi para o meu bolso, o dispêndio financeiro, que realizei nas feituras-de-santo e suas renovações, como vimos totalmente desnecessárias; nem tão pouco, tenho capacidade de entender o salto de qualidade que é se pagar um valor razoável para receber um deká, que somente me dá direito a uma apostila, um diploma, e a condição de ficar no meio do terreiro como destaque e abençoar os filhos-de-santo, no instante que louvam o meu Orixá principal. Deká esse que somente pode ser usado, em cerimônias de outorga dessa comenda para outras pessoas e que fora isso serve apenas para ficar mofando dentro do guarda-roupa.
Com certeza, eu sou culpado de nas minhas obrigações anuais, não existirem nenhum ensinamento, ou transferência de conhecimentos, como é determinado pela Tradição no Omolocô, e que eu tenha, que procurar esses conhecimentos em livros, internet e outros locais.
Devo com certeza, estar ficando louco, obsediado, ou quem sabe até demandado, por não me unir ao coro, que hoje chama de catimbozinho, a Umbanda, que antes do Omolocô reinar em nossas vidas, nós batiamos com tanta alegria e felicidade. De não considerar como terreirinhos, as casas espirituais que insistem nesse catimbozinho e que não aceitam o Omolocô como necessário para suas evoluções espirituais ou salto de qualidade em seus ritos, liturgias e doutrinas.
Como não compreender, que para chegarmos a ser Sacerdotes dentro do Culto Omolocô, temos que permitir que mexam na nossa cabeça (tarimbar o santo) 72 vezes? Sim, 72 VEZES, é que depois de 63 tarimbamentos (9 orixás X 7 feituras), se faz necessário, mais uma feitura com nove tarimbamentos (fechamento de círculo), para corrigir ou colocar os Orixás no posicionamento correto (casas astrais).
Realmente, não fui capaz de captar essa evolução espiritual, nem o sentido da coisa, devo ser um espírito muito atrasado.
Como eu já tenho 61 dos 72 tarimbamentos, faltando apenas 11 para terminar, e diante do fato, que eu só precisava de 3 tarimbamentos (triângulo dos Orixás regentes), concluo que tenho 58 tarimbamentos sobrando, logo tenho feitura de santo para dar e vender.
A partir de hoje, estou vendendo as minhas feituras de santo desnecessárias. Quem quer comprar?

Glossário:
• Iniciação - é qualquer processo religioso ou esotérico, que transforma uma pessoa leiga (sem conhecimento ou experiência) nos fundamentos da religião ou ordem esotérica em adepto ou iniciado.
• Escola de Mistérios - era assim chamada os antigos Colégios religiosos ou esotéricos em que as pessoas se inicavam nos Mistérios, ou seja, na religião e ciências ocultas.
• Experiencia Mística - assim chamamos o êxtase religioso, a transcendência espiritual, o contato com o mundo dos espíritos de forma direta e sem intermediários.
• Comidas-de-Santo - são pratos preparados com diversos tipos de ingredientes de origem vegetal (frutas e verduras) e animal (tipos de carnes) para se ofertar ao Orixá. Cada Orixá tem um conjunto de pratos correspondentes.
• Bori - é um ritual de consagração que quando realizado com as ervas do Orixá é chamado de frio e quando se usa a comida-do-santo e/ou sacrifício de animais e denominado de quente.
• Xiré - é a sequência de louvação dos Orixás em qualquer casa dos cultos afro-brasileiros (Candomblé, Omolocô etc.).
• Roncó - é o local sagrado nos terreiros de nação (Candomblé, Omolocô etc.) em que estão afirmados todos os Orixás do Pai/Mãe-de-Santo, bem como de todos os seus filhos-de-santo.
• Feitura-de-Santo - É o processo de iniciação nos terreiros de nação. Quando o leigo passa a ser iniciado ou adepto. Geralmente é quando se afirma o Orixá da pessoa. Esse ritual varia em forma e conteúdo de nação para nação e as vezes de terreiro para terreiro.
• Bolar com o Santo - significa incorporar o Orixá.
• Otá - é a pedra sagrada do Orixá.
• Quartinha - recipiente pequeno de barro ou louça (espécie de copo de barro com tampa). Na quartinha são colocados determinados elementos que fizeram parte do processo de inciação do adepto e que se enche de água.
• Rezas - são as cantigas sacras do Omolocô.
• Saída-de-Santo - é quando o adepto incorporado com Orixá, devidamente vestido e paramentado com a roupa do santo e suas armas, se apresenta ao público em festas comemorativas.
• Deká - comenda (colar de palha-da-costa, com fundamentos de todos os Orixás) que é entregue ao inciado que cumpriu todas as suas obrigações. Ao receber o deká o iniciado alcança o grau de Babalorixá/Yalorixá, podendo abrir o seu terreiro e dar início a sua filiação.
• Catulagem - (Omolocô) o mesmo que tonsura (corte redondo dos cabelos no topo da cabeça) com objetivo de retirar um pouco do cabelo do iniciado e criar um espaço para que se complete o ritual de inciação.
• Raspagem - (Candomblé) como o próprio nome indica raspagem completa do cabelo do iniciante no processo de iniciação.
• Bori quente - ver Bori.
• Bori frio - ver Bori.
• Tarimbar o santo - (Omolocô) imprimir no lugar aberto pela catulagem a insígnia ou sinal ritualístico do Orixá, para afirmar suas energias. Isso é feito através de se riscar o sinal do Orixá com a ponta de um punhal, no alto da cabeça do iniciante.
• Gebéré - (Candomblé) corte ritualístico realizado no alto da cabeça do iniciante.
• Camarinha - recolhimento do filho-de-santo em local específico (roncó ou dentro do terreiro).
• Preceitos - são regras que devem ser cumpridas pelo inciante antes da inciação para purificar o corpo, a mente e o espírito, e depois pelo já iniciado até se encerrar o período de pureza e consagração espiritual.
• Quizilas - o mesmo que tabu, determinadas coisas que o inciado deve evitar. As quizilas se diferenciam depedendo do Orixá principal que o inciado tem afirmado.
• Curas - (Candomblé) cortes ritualísticos, realizado geralmente com navalha no corpo do iniciante, no processo de iniciação.
• Toques - é como é chamado o ritual em que são reunidos os inciados e louvado os Orixás através dos cânticos, danças e batida dos atabaques (tambores). geralmente nos toques existem a manifestação dos Orixás ou seus filhos respectivos bolam.
• Candomblé de Caboclo - segmento do Candomblé em que já existem manifestaçào de entidades (ex.: Boiadeiros).
• Obi - angiospermas, noz-de-cola, o Obi no processo de iniciação é cortado em quatro partes, para realização do jogo oracular. Uma das partes é dada para o iniciante comer.
• Eledá - Orixá Principal, também chamado de Anjo da Guarda.
• Santé - o mesmo que terreiro.

sábado, 31 de julho de 2010

CONSELHOS OPORTUNOS




COLETÂNEA DE INFORMAÇÕES




Para exercer a mediunidade é importante que você assegure-se de alguns instrumentos, sendo eles: intelectuais, espirituais e materiais.
Os instrumentos intelectuais resumem-se em um só: o estudo.
O estudo deve ser uma constante na vida do médium, pois desenvolve o discernimento, isto é, a capacidade de julgar.

Os instrumentos morais consubstanciam-se na conduta do médium; uma conduta moralizada protege-o contra os Espíritos ignorantes e maldosos que por ventura procurem embaraça-lo no desempenho de sua mediunidade, fá-lo contar com o auxílio dos bons espíritos, onde quer que esteja o médium deve ser um exemplo de moralidade, porém sem afetação, é interessante que procure livrar-se dos vícios, por menores que sejam.

O instrumento espiritual de que o médium deve munir-se é a fé. Não a fé cega, fanática, mas a racionada, a fé que não duvida, pois o estudo esclarece as dúvidas.
Tenha fé em Deus, em si mesmo e nas Entidades espirituais que o acompanham.
“A fé robusta nos confere a perseverança, a energia, e os recursos necessários para a vitória sobre os obstáculos, tanto nas pequenas, quanto nas grandes coisas”. (Kardec – O Evangelho segundo o espiritismo);

Os instrumentos materiais consistem no esforço do médium para ganhar o sustento seu e de sua família através do trabalho honesto, segundo sua profissão. Não use a mediunidade como meio para lucrar, explorando a boa fé das pessoas.

Para que sejamos bem sucedidos em nossa missão como médiuns é imperioso que cultivemos as seguintes virtudes: a paciência, a perseverança, a boa vontade, a humildade e a sinceridade.

Exercícios para desenvolver a mediunidade

É importante que estes exercícios sejam sempre supervisionados por alguém experiente, o médium em desenvolvimento não deve praticar estes exercícios sozinho.
Primeiro devemos aprender a concentração. Concentrar-se significa pensar em uma só coisa; habituemos-nos a fixar o pensamento e não deixá-lo vagar. Quando nós estivermos praticando o desenvolvimento de nossa mediunidade, esqueçamos completamente o que nos sucedeu anteriormente; libertemo-nos das preocupações; fixemos o pensamento unicamente em Deus e por meio de uma prece fervorosa peçamo-lhe que permita que os Orixás e Guias da casa se interessem por nós e nos ajude em nosso desenvolvimento.

Como desenvolver a Mediunidade de incorporação:

O médium coloca-se diante do altar, eleva seu pensamento à Deus, exclui da mente toda e qualquer pensamento e concentra-se em um elemento da natureza, seja uma cachoeira, o mar, floresta, jardim florido, um arco-íris, um sol brilhante, etc. relaxe o corpo e se deixa levar pelas sensações daquele momento, procurando não interferir no desenvolvimento.

Como desenvolver a Mediunidade falante:

Feita a concentração, o médium deve dedicar uns cinco minutos para a prática do exercício. O dirigente fará três ou quatro pedidos neste tempo, notando que o médium está sendo influenciado, procurará travar conversação com ele. A principal dificuldade a vencer consiste em fazer com que o médium não segure a comunicação. Quase todos os médiuns em desenvolvimento não deixar o Guia falar, apesar de atuados, logo que o médium deixar que o Guia fale livremente, o desenvolvimento se operará com facilidade. Quando o Guia começa a atuar, o médium sente a sensação de um leve choque elétrico, que lhe percorre o corpo e o faz estremecer; a respiração se acelera e o coração pulsa mais rápido; parece que alguma coisa lhe envolve a cabeça, uma porção de pensamentos lhe aflui ao cérebro e é tomado de um grande desejo de repetir em voz alta esses pensamentos. No começo o médium julga que esses pensamentos são seus e por isso reprime a manifestação do Guia; não deve reprimi-la; deve falar, repetir o que o espírito está ditando. Terminada a manifestação o Guia se retira e o médium volta ao normal. As primeiras comunicações, são palavras soltas e frases quase sem sentido; com o progredir do desenvolvimento, a comunicação se tornará concatenada até se transformar em preleções e conversações com os presentes.

Como desenvolver a Mediunidade escrevente:

O médium em desenvolvimento senta-se à mesa; toma um lápis e papel e coloca-se na posição de quem vai escrever, deixará mão relaxada ou bem mole, concentra-se. Quando o espírito começar a atuar, o médium sentirá que sua mão é puxada ora para um lado, ora para o outro; procure relaxar, não forçar nem retesar os músculos, o que dificulta e quase impede a ação do espírito; não prestar atenção ao que o espírito escreve, conservar-se bem concentrado. Nas primeiras sessões é muito natural que nada consiga; com o continuar dos exercícios, irá riscando o papel, traçando letras, em seguida palavras, depois frases e por fim, mensagens completas.

Como desenvolver a Mediunidade audiente:

Esta mediunidade para ser exercida com êxito precisa de muita sinceridade da parte do médium, porque só ele ouve o que o Guia quer transmitir. O médium concentra-se. E procura ouvir as palavras que o Guia está ditando, com o decorrer dos exercícios o médium irá ouvindo os espíritos; distinguirá a voz de cada um e reconhecerá a muitos; poderá conversar com eles, dirigindo-lhes perguntas através do pensamento às quais eles responderão.

Como desenvolver a Mediunidade vidente:

Para desenvolver esta mediunidade, procede-se da seguinte maneira: concentrados, procuramos ver, ora com os olhos abertos, ora com eles fechados. Depois de continuados exercícios, principiaremos a perceber qualquer coisa, como que uma névoa rala e luminosa; essa névoa, aos poucos irá adquirindo forma até que distinguimos os traços dos Guias presentes.
A visão mental se apresenta ao médium como se ele estivesse revendo alguém em pensamento. A princípio são apenas imagens vagas que se tornarão nítidas à medida que o desenvolvimento progride.

Como desenvolver a Mediunidade intuitiva:

O médium mune-se de lápis e papel e concentra-se. Em seguida anotará todos os pensamentos que lhe aflorarem ao cérebro. Os primeiros pensamentos que consegue receber dos Guias são confusos, frases sem nexo, palavras soltas. É comum o médium julgar que tais pensamentos são seus; não importa, deve escrevê-los e depois analisá-los. Com o progredir do desenvolvimento, os pensamentos afluirão cada vez mais claros e precisos e, com a prática o médium facilmente distinguirá o que é seu e o que é da Entidade.
Como desenvolver a Mediunidade inspirada:

O desenvolvimento da mediunidade inspirada difere radicalmente do das outras mediunidades. Na mediunidade de incorporação, o corpo inteiro, na falante, os espíritos se servem dos órgãos vocais do médium, na escrevente, da mão, na audiente, dos ouvidos, na vidente, dos olhos, na intuitiva, do cérebro; na mediunidade inspirada, os espíritos se utilizam da inteligência e do saber do médium. Os espíritos inspiram aos médiuns somente o que está ao alcance da sua compreensão; deduzimos, por conseguinte, que quanto mais cultivada estiver a inteligência do médium, tanto mais inspirado será. Para cultivar a inteligência e aparelhar-se para ser um bom médium inspirado é preciso ler muito; estudar profundamente, principalmente o evangelho. Estudando, pregando e ensinando, o médium facilmente será inspirado pelas Entidades que lutam pelo progresso espiritual da humanidade.
É comum o sono apoderar-se de nós durante os momentos em que estamos concentrados orando. Evitaremos este inconveniente, se tivermos cuidado com a alimentação. Nos dias marcados para o estudo e desenvolvimento, nos alimentaremos pouco, isto é, uma refeição leve, de maneira a não nos deixar o estômago cheio. A digestão de uma sopa, por exemplo, não provocará a sonolência que acompanha a ingestão de alimentos sólidos e pesados.

Livro consultado: A Mediunidade sem lágrimas – Eliseu Rigonatti

Mediunidade
Autoria de: Francisco Cândido Xavier e Waldo Vieira
(Livro: MECANISMOS DA MEDIUNIDADE)
Acena-nos a antiguidade terrestre com brilhantes manifestações mediúnicas, a repontarem da História.
Discípulos de Sócrates referem-se, com admiração e respeito, ao amigo invisível que o acompanhava constantemente.
Reporta-se Plutarco ao encontro de Bruto, certa noite, com um dos seus perseguidores desencarnados, a visitá-lo, em pleno campo.
Em Roma, no templo de Minerva, Pausânias, ali condenado a morrer de fome, passou a viver, em Espírito, monodeizado na revolta em que se alucinava, aparecendo e desaparecendo aos olhos de circunstantes assombrados, durante largo tempo.
Sabe-se que Nero, nos últimos dias de seu reinado, viu-se fora do corpo carnal, junto de Agripina e de Otávia, sua genitora e sua esposa, ambas assassinadas por sua ordem, a lhe pressagiarem a queda no abismo.
Os Espíritos vingativos em torno de Calígula eram tantos que, depois de lhe enterrarem os restos nos jardins de Lâmia, eram ali vistos, freqüentemente, até que se lhe exumaram os despojos para a incineração.
Toda via onde a mediunidade atinge culminâncias é justamente no Cristianismo nascituro.
Toda a passagem do Mestre inesquecível, entre os homens é um cântico de luz e amor, externando-lhe a condição de medianeiro da Sabedoria Divina.
E, continuando-lhe o ministério, os apóstolos que se mantiveram leais converteram-se em médiuns notáveis, no dia de Pentecostes (2), quando, associadas as suas forças, por se acharem “todos reunidos”, os emissários espirituais do Senhor, através deles, produziram fenômenos físicos em grande cópia, como sinais luminosos e vozes diretas, inclusive fatos de psicofonia e xenoglossia, em que os ensinamentos do Evangelho foram ditados em várias línguas, simultaneamente, para os israelitas de procedências diversas.
Desde então, os eventos mediúnicos para eles se tornaram habituais.
Espíritos materializados libertavam-nos da prisão injusta. (3)
O magnetismo curativo era vastamente praticado pelo olhar (4) e pela imposição das mãos. (5)
Espíritos sofredores eram retirados de pobres obsessos, aos quais vampirizavam. 6)
Um homem objetivo e teimoso, quanto Saulo de Tarso, desenvolve a clarividência, de um momento para o outro, vê o próprio Cristo, ás portas de Damasco, e lhe recolhe as instruções (7). E porque Saulo, embora corajoso, experimente enorme abalo moral, Jesus, condoído, procura Ananias, médium clarividente na aludida cidade, e pede-lhe
Socorro para o companheiro que encetava a tarefa. (8)
Não somente na casa dos apóstolos em Jerusalém mensageiros espirituais prestam continua assistência aos semeadores do Evangelho; igualmente no lar dos cristãos, em Antioquia, a mediunidade opera serviços valiosos e incessantes. Dentre os médiuns aí reunidos, um deles, de nome Agabo (9), incorpora um espírito benfeitor que realiza importante premonição. E nessa mesma igreja, vários instrumentos medianímicos aglutinados favorecem a produção da voz direta, consignando expressiva incumbência a Paulo e Barnabé. (10)
Em Tróade, o apóstolo da gentilidade recebe a visita de um varão, em espírito, a pedir-lhe concurso fraterno. (11)
E, tanto quanto acontece hoje, os médiuns de ontem, apesar de guardarem consigo a Benção Divina, experimentavam injustiça e perseguição. Quase por toda à parte, padeciam inquéritos e sarcasmos, vilipêndios e tentações.
Logo no início das atividades mediúnicas que lhes dizem respeito, vêem-se Pedro e João segregados no cárcere. Estevão é lapidado. Tiago, o filho de Zebedeu, é morto a golpes de espada. Paulo de Tarso é preso e açoitado várias vezes.
A mediunidade, que prossegue fulgindo entre os mártires cristãos, sacrificados nas festas circenses, não se eclipsa, ainda mesmo quando o ensinamento de Jesus passa a sofrer estagnação por impositivos de ordem política. Apenas há alguns séculos, vimos Francisco de Assis exalçando-a em luminosos acontecimentos; Lutero transitando entre visões; Teresa D’Ávila em admiráveis desdobramentos;
José de Copertino levitando ante a espantada observação do papa Urbano VIII, e Swedenberg recolhendo, afastado do corpo físico, anotações de vários planos espirituais que ele próprio filtra para o conhecimento humano, segundo as concepções de sua época.
Compreendemos, assim, a validade permanente do esforço de André Luiz, que se servindo de estudos e conclusões de conceituados cientistas terrenos, tenta, também aqui (12), colaborar na elucidação dos problemas da mediunidade, cada vez mais inquietantes na vida conturbada do mundo moderno.
Sem recomendar, de modo algum, a prática do hipnotismo em nossos templos espíritas, a prática do hipnotismo em nossos templos espíritas, a ele recorre, de escantilhão, para fazer mais amplamente compreendidos os múltiplos fenômenos da conjugação de ondas mentais, além de com isso demonstrar que a força magnética é simples agente, sem ser a causa das ocorrências medianímicas, nascidas, invariavelmente, de espírito para espírito.
Em nosso campo de ação, temos livros que consolam e restauram, medicam e alimentam, tanto quanto aqueles que propõem e concluem, argumentam e esclarecem.
Nesse critério, surpreendemos aqui um livro que estuda.
Meditemos, pois, sobre suas páginas. Emmanuel
Uberaba, 6 de agosto de 1959.
(2) Atos, 2:1 -13.
(3) Atos, 5:18 -20.
(4) Atos, 3:4 -6.
(5) Atos, 9:17.
(6) Atos, 8:7.
(7) Atos, 9:3 – 7.
(8) Atos, 9:10-11.
(9) Atos, 11:28.
(10) Atos, 13:1-4.
(11) Atos, 16:9-10.
(12) Sobre o tema desta obra, André Luiz é o autor de outro livro, intitulado “Nos Domínios da Mediunidade”. – (Nota da Editora)


Mediunidade, um Resumo
Bismael B. Moraes
No Universo, tudo é energia em suas mais infinitas formas. Obviamente, a Terra é apenas como que um grão de areia nos inúmeros sistemas universais e, dentro dela, em graus evolutivos diversos e em aprendizado constante, os seres humanos ainda se debatem ante as Leis da Natureza. Muitos sequer descobriram a existência dos dois planos - o físico e o espiritual - dos quais todos participamos, independentemente da nossa vontade ou condição racial, política, social, econômica ou intelectual, pois o homem não cria nem revoga lei natural ou Lei de Deus.
A mediunidade, que envolve complexas e sutis formas energéticas, é uma faculdade que está latente em todos os indivíduos, podendo apresentar-se ou manifestar-se por vários modos, dependendo do estádio moral de cada médium (que é o intermediário entre o plano físico e plano espiritual, ou seja, serve de mediador entre encarnados - pessoas - e desencarnados - Espíritos , podendo também ser aquele que recebe influência, inspiração, conselho ou ensinamento de entidades espirituais, até, às vezes, sem o perceber). Allan Kardec sintetiza os médiuns em duas categorias: aqueles de efeitos físicos (a quem os Espíritos se manifestam por intermédio de movimentos, incorporações, ruídos, sons, transporte de objetos, etc.) e aqueles de efeitos intelectuais (a quem os Espíritos se apresentam por meio de comunicações inteligentes - por idéias, escritos, desenhos, sinais, palavras etc.).
Como a vida física é efêmera (pois cada ser humano só vive pelo tempo necessário de prova que pediu ou de expiação que lhe foi determinada - de poucos minutos a muitos anos de existência terrena -, na lenta caminhada de aprendizado e progresso) e como a vida espiritual é eterna, e descobrindo-se, pelo estudo e pela pesquisa, que o espírito se comunica pelo pensamento, o raciocínio nos mostra, claramente, que somos espíritos encarnados, porque estamos sempre pensando: nosso corpo frágil, auxiliado pelos cinco sentidos - visão, tato, audição, olfato e paladar - é peça material que requer consciência e razão. Por isso, as diferenças entre os seres da mesma família: uns já viveram muito, antes, e aprenderam; outros viveram poucas existências e ainda não aprenderam.
Todos temos algum tipo de mediunidade; é dom concedido por Deus. Porém, só alguns possuem as chamadas mediunidades de tarefa: audiência (de ouvir vozes de Espíritos); vidência (de ver Espíritos); psicografia (de escrever o que ditam os Espíritos); psicopictografia (de pintar sob ação dos Espíritos); falante (de transmitir pelos órgãos vocais a palavra do Espírito); xenoglossia (de falar e escrever línguas estrangeiras que não conhece), incorporação (emprestar o corpo para que Guias, Orixás e outros espíritos se manifestem) além de outros tipos de mediunidade. Há pesquisadores e estudiosos do Espiritismo que classificam acima de cinqüenta os tipos de mediunidade. Existem ainda os casos de médiuns especiais, dotados de aptidões particulares, como os enumera Allan Kardec, no capítulo XVI, em "O Livro dos Médiuns", obra indispensável a quem se predisponha ao estudo sério sobre os tipos de mediunidade.
O médium, para desincumbir-se das tarefas que lhe são confiadas pelo plano espiritual, deve ser diligente, aplicado, sincero, disciplinado e bondoso, evitando o orgulho e a vaidade. Jamais deverá colocar-se na condição de superior perante os demais irmãos, sejam estes seguidores ou não da nossa religião, sabendo que é apenas um tarefeiro e que tem como diretrizes os ensinamentos Guias e Orixás e, no que tange aos cristãos, as lições morais de Jesus, para a prática do bem.
"O médium é um companheiro. É um trabalhador. É um amigo. E é sobretudo nosso irmão, com dificuldades e problemas análogos àqueles que assediam a mente de qualquer espírito encarnado".
"Mediunidade não é pretexto para situar-se a criatura no fenômeno exterior ou no êxtase inútil, à maneira da criança atordoada no deslumbramento da festa vulgar. É , acima de tudo, caminho de árduo trabalho em que a pessoa, chamado a servi-la, precisa consagrar o melhor das próprias forças para colaborar no desenvolvimento do bem". ( Ensinamentos do Espírito Emmanuel, no livro "Mediunidade e Sintonia", pelo médium Chico Xavier).

O Médium e os tipos de mediunidade
O princípio dos fenômenos psíquicos repousa sobre a propriedade do fluido perispiritual que constituiu o agente sobre as manifestações da vida espiritual durante a vida e depois da morte

Introdução 1 – O Espiritismo tem por princípio as relações do mundo material com os Espíritos ou seres do mundo invisível.

Questão 159 – Médium
 toda pessoa que sente a influência dos Espíritos, em qualquer grau de intensidade
 finalidade inerente ao Homem
 não constitui privilégio e são raras as pessoas que não a possuem pelo menos em estado rudimentar
 todos são mais ou menos médiuns
 aplica-se somente aos que possuem uma faculdade mediúnica bem caracterizada, que se traduz por efeitos patentes de certa intensidade, o que depende de uma organização mais ou menos sensitiva
 não se revela em todos da mesma maneira
 aptidão para esta ou aquela ordem de fenômenos, o que os divide em tantas variedades quantas são as espécies de manifestações.

Tipo mais usual de mediunidade

Incorporação
O médium empresta seu corpo para que os Guias se manifestem, assumindo a forma que tinham quando de sua passagem pela vida material.

Inspiração
Influência dos Espíritos em nossos pensamentos Influem a tal ponto, que, de ordinário, são eles que vos dirigem.

Distinção entre pensamentos nossos e dos outros
Os pensamentos próprios são os que acodem em primeiro lugar. Não é de grande interesse estabelecer essa distinção. Muitas vezes, é útil que não saber, pois agimos com mais liberdade. Se se decide pelo bem, é voluntariamente que o pratica; se toma o mau caminho, maior será a sua responsabilidade.

Médiuns sensitivos – pessoas susceptíveis de sentir a presença dos Espíritos por uma sensação geral ou local

Manifestação dos Espíritos – item 6 – Dos médiuns

A faculdade depende da organização do indivíduo, pode ser desenvolvida quando existe o princípio, mas não pode ser adquirida quando o princípio não existe. A predisposição mediúnica não depende de sexos, idades ou temperamentos; encontram-se médiuns em todas as categorias de indivíduos.

Nota de J. Herculano Pires – A mediunidade depende da organização do corpo humano que, por sua vez, depende do perispírito. São as relações do perispírito com o corpo, formando um organismo de dupla natureza, espiritual e material, que condicionam a existência em maior ou menor grau de mediunidade e suas possibilidades de desenvolvimento. Não se pode atribuir a mediunidade ao corpo. Depende essencialmente do perispírito. Sua sede é o perispírito. Da maior ou menor possibilidade de emissão de fluidos e de assimilar os seus fluidos com os dos Espíritos depende a capacidade do médium

Modelo para o Homem

Jesus é para o Homem o tipo da perfeição moral a que pode esperar a humanidade na Terra. Deus nô-lo oferece como o mais perfeito modelo e a doutrina que ele ensinou é a mais pura expressão de sua lei, porque ele foi o Ser mais puro que já apareceu na Terra.

Jesus era médium?
Jo 12:49-50 – Pois não falei por mim mesmo, mas o Pai que me enviou me ordenou o que dizer e o que falar. Sei que o seu mandamento é a vida eterna. Portanto, o que eu digo é exatamente o que o Pai me mandou dizer.
Jo 14:24 – Aquele que não me ama não obedece às minhas palavras. Estas palavras que vocês estão ouvindo não são minhas; são do meu Pai que me enviou.

 como Homem – organização dos seres carnais
 como Espírito puro – devia viver na vida espiritual mais que na vida corporal, da qual não tinha as fraquezas.
 superioridade era relativa às qualidades de seu Espírito, não de seu corpo  dominava a matéria de maneira absoluta
 Médium é intermediário, instrumento de que se servem os Espíritos desencarnados  não tinha necessidade de assistência em vista de seu poder pessoal  Se ele recebesse um influxo estranho, não poderia ser senão de Deus; segundo a definição dada por um Espírito, era o médium de Deus.
Resumo da exposição feita em nosso 15.º Simpósio, cujo tema central foi: Comportamento Moral do Médium.







Espiritualidade e Prosperidade

Talvez você já tenha se perguntado por que muitas pessoas "não espiritualizadas" prosperam e vivem felizes, em abundância e conforto, enquanto que muitas pessoas ditas "espiritualizadas" vivem a trancos e barrancos, senão com falta ao menos não com abundância de recursos materiais. Por que isso acontece? Será que a espiritualidade está fadada a ser sinônimo de penúria e desconforto?
Pessoas não espiritualizadas buscam conforto e prazer e quando as encontram não se sentem culpadas por isso, pelo contrário, para elas essas dádivas não são uma benção do céu mas algo de que elas têm direito legítimo e, até mesmo, que a natureza a sua volta tem obrigação de lhes dar. Dessa forma elas não se sentem, de forma alguma, constrangidas em buscar mais e assim vivem uma vida repleta de conforto, alegrias, abundância e prosperidade.
Já as pessoas espiritualizadas, quando encontram conforto e satisfação as encaram como uma dádiva divina, algo que foi recebido de presente, enviado por Deus, ou pelos deuses, com ou sem mérito, uma benção dos céus. Assim, como receberam de presente, sentem-se constrangidas em pedir ou buscar mais além do que lhes foi dado e dessa forma vivem uma vida de mais-ou-menos. Talvez não cheguem aos píncaros da miséria mas andam sempre pelo limite, tendo apenas o suficiente para viver - ou sobreviver - de forma razoável.
A diferença então parece estar basicamente na postura que se tem com relação as posses materiais. Para os não espiritualizados a posses materiais são simples fato e como tal estão passíveis de serem aumentadas, canalizadas, administradas, gerando assim abundância e prosperidade duradouras. Para o espiritualizado elas representam uma benção divina e como tal dependem de autorização superior para serem administradas, ficando seu possuir, virtualmente, de mãos amarradas quanto ao trato das coisas materiais.

O camelo na agulha e o rico no céu

Mateus cap. 19 versículos 16-24 narra a estória de um jovem, possuidor de grande fortuna, que pergunta a Jesus o que lhe falta para entrar no reino de Deus. Depois de verificar que ele tem seguido os mandamentos (não roubaras, não matarás, etc.), ou seja, tem sido um bom cidadão e um bom religioso, diz-lhe só faltar uma coisa, livrar-se de tudo o que tem para juntar-se a ele, Jesus. Neste momento o tal jovem retira-se triste pois não queria abandonar sua riqueza. E Jesus finaliza com o clássico: "é mais fácil um camelo passar pelo buraco de uma agulha do que um rico entrar no reino dos céus."
Cabe lembrar que camelo aqui não se trata de animal, obviamente, mas de uma corda, muito grossa, usada antigamente para amarrar navios ao ancoradouro.
Esta passagem deve ter sido uma das prediletas da igreja instituída durante a Idade Média. A primeira vista ela parece deixar claro que para ser um bom cristão (espiritualizado) é preciso ser pobre, estando o rico, possuidor de fortunas e bens materiais, fadado a permanecer excluído do céu. No entanto, a Idade Média passou e com ela seus dogmas e paradigmas.
Atualmente, com a mente mais esclarecida e equilibrada, é possível ter-se uma outra visão dessa passagem, a visão do Desapego. Por essa ótica o ponto crucial não é possuir ou não muitos bens materiais mas sim estar ou não dependente deles, preso a eles, viciado neles. Posses materiais podem gerar vício tal como cigarro, álcool, comida ou qualquer outro produto químico.
Abundância de recursos materiais costuma andar de mãos dadas com status social e por isso é atualmente considerada como essencial. Mas nem sempre foi assim e não precisa ser assim sempre. Uma amostra drástica dessa dependência de bens materiais é o número de suicídios registrados em 1969, logo após a quebra da bolsa de valores de Nova York que ficou conhecida como a terça-feira negra. Na ocasião milionários nascidos em berço de ouro ficaram pobres da noite para o dia de forma imprevista e inesperada.
Espírito e matéria: Equilíbrio

Dizia o mestre galileu que nem só de pão vive o homem. No entanto, também nem só de espírito vive o homem. Nós não somos apenas espírito nem somente matéria mas uma junção dos dois. Assim precisamos alimentar nosso corpo físico tanto quanto precisamos nutrir nossa alma. Qualquer desequilíbrio, seja num lado ou no outro, é causador de problemas.

Atualmente a própria medicina ocidental tem reconhecido a necessidade de se manter uma mente tranqüila e harmoniosa a fim de propiciar um organismo saudável. A relação entre câncer e atitudes e pensamentos inadequados já não é mais novidade. Também já está comprovado como um estado mental positivo, com bom ânimo e alegria, pode, senão curar ao menos facilitar a cura de muitas doenças, inclusive câncer e outras doenças degenerativas.

Segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde) a definição de saúde é: "um estado de completo bem-estar físico, mental e social...". A inter-relação entre físico e mental é inquestionável, já é fato comprovado. O fator social acaba sendo conseqüência do fator mental mas não só dele. Vivemos em uma sociedade capitalista onde é preciso comprar aquilo de que necessitamos para viver: comida, roupas, casa, eletricidade, transporte. Isso é fato.

Com uma alimentação deficiente é impossível manter-se um organismo saudável. Com um corpo fraco e deteriorado, talvez abatido por alguma disfunção orgânica, não se pode manter um estado de espírito positivo. E sem bem-estar físico e mental não há perfeita convivência social. Para todos eles é necessária a aquisição de determinados elementos: alimentos e roupas para o corpo; livros, revistas, músicas para o espírito; encontros, passeios, participação em eventos para o social. Para adquirir esses elementos, em uma sociedade capitalista, é preciso ter dinheiro. Então para se ter uma perfeita saúde torna-se fundamental a posse de recursos financeiros mínimos para manter esses três fatores em equilíbrio.
DIREITOS AUTORAIS: Este texto pode ser copiado, por quaisquer meios e para qualquer fim, desde que citada a autoria.

INFORMAÇÃO é mais do que um DIREITO, é um DEVER.
.:.
Ninguém é melhor do que ninguém,
ninguém é pior do que ninguém,
somos todos iguais aqui.
Estamos todos aprendendo,
por ação ou por omissão,
querendo ou não.
.:.
Pai Eterno, em tuas mãos entrego meu Espírito;
Faze de mim instrumento da tua Obra; E que a minha
vontade seja, Hoje e Sempre, a tua Vontade.









O Mal das fofocas e intrigas dentro de um terreiro de Umbanda.

A Umbanda é uma religião livre e aberta a todos, ou seja: livre, pois não se prende a uma doutrina exclusiva e restritiva, permitindo a cada ramificação e a cada terreiro, exercerem a sua própria doutrina e seus próprios fundamentos de acordo com seus guias espirituais; aberta, pois recebe a todos sem preconceito de crença, cor, status social ou econômico, ou preferências sexuais.
As casas de Umbanda estão sempre com suas portas abertas a todos, se motivando pela caridade no ajudar ao próximo, e na educação moral e espiritual do ser humano.
O "código moral umbandista" se baseia no respeito as diferenças, no respeito a todas as crenças, e a todas as formas de praticar a religião de Umbanda que existem no mundo. É, no mundo, pois a Umbanda se tornou uma religião não só brasileira, mas que se encontra em vários países, como: EUA, Argentina, Uruguai, França, Suíça, Portugal etc.
Sem preconceito, a Umbanda acolhe a todos e a todos tem uma palavra de força, de fé de conforto. Porém, os terreiros não são perfeitos, pois o material de trabalho dos Guias e Orixás somos nós, seres humanos que têm defeitos, manias, maus hábitos, defeitos morais e espirituais que os Guias têm de conviver, e, aos poucos, quando a matéria permite modificações, eles as fazem de bom grado, mas sabendo que nem tudo é passível de mudança. Só tempo é com muita paciência e boa vontade (com uma dose de determinação e aceitação do médium) é que as mudanças podem ocorrer (Umbanda não faz milagres, muito menos, os Guias e Orixás).
Um dos piores defeitos morais coletivos que pode existir dentro de um terreiro é a "fofoca", e, com ela, as intrigas. Se existem fofocas isso demonstra que também existem inveja, ciúmes, vaidades, soberba ... Ou seja, uma série de maus modos que têm como termômetro a fofoca.
Normalmente o "médium fofoqueiro" não faz essa prática por mal. Ele a faz por um vício que traz de casa, do convívio familiar e que não foi corrigido em tenra idade, e que acaba se tornando um vício que persegue a pessoa dentro da própria família, em suas relações pessoais, no trabalho e, infelizmente, dentro de uma casa espiritual (não só nos
terreiros de Umbanda, mas nas casas espirituais em geral: Igrejas, Centros Kardecistas, Terreiros de Candomblé etc).
O "médium fofoqueiro", muitas vezes, não tem idéia do mal que acaba fazendo, pois se torna compulsivo e involuntário nas palavras (a língua acaba sendo mais rápida do que o pensamento racional e moral). Com isso acaba gerando desconforto dentro do ambiente do terreiro, pois finda no jogo cruel e imoral do "jogar uma pessoa" contra as outra, ou outras;
amigos contra amigos, irmãos contra irmãos; Pai/Mãe de Santo contra o ou os filhos; os filhos contra o Pai/Mãe de Santo. Ou seja, gera um caos, onde o "médium fofoqueiro" fica olhando e se divertindo com tudo aquilo, sem dar conta do estrago que está fazendo.
As situações podem chegar a um ponto tal que as próprias "entidades" do "médium fofoqueiro" passam a absorver esse mal, ou o médium passa a ser anímico a tal ponto que suas "entidades" passam a também fazer fofocas, tais como: "tem uma pessoa aqui no terreiro que diz ser sua amiga, mas que vai te passar a perna"; "você deveria tomar cuidado, pois tem gente aqui dentro de olho no(a) seu(ua) homem/mulher"; "o cavalo de fulano fez aquelas obrigações, mas o seu não faz ...".
Essas situações são terríveis e acabam marcando o próprio médium, e, sem dizer, as suas "entidades", pois acabam, ele/ela e as entidades, perdendo a credibilidade, a confiança. Nesse ponto, onde antes havia "o veneno pernicioso da fofoca" gerado pelo médium, ele acaba colhendo o próprio fel que plantou. Caindo em desgraça diante dos irmãos e da
própria assistência, fazendo com que o Guia chefe da casa ou o próprio sacerdote chefe, acabe tendo que tomar medidas drásticas, como: a suspensão, a bronca pública ou mesmo a expulsão do médium do terreiro.
Porém, como lidar para que as coisas não cheguem a um ponto extremo de ter que expulsar um "médium fofoqueiro" de um Terreiro?
Inicialmente as queixas devem ser levadas ao Guia chefe da casa e/ou ao Sacerdote de comando do Terreiro, para que ele possa avaliar essas queixas. Caso as mesmas sejam pertinentes, o "médium fofoqueiro" deve ser chamado, tendo em vista que a pessoa não faz essa prática por ser ruim, mas porque tem problemas diversos (baixa estima; ciúmes
inexplicáveis; é muito possessiva e não aceita dividir ou ter perdas; problemas de relacionamento em casa: marido, pais ou filhos; é uma pessoa, muitas vezes, amarga com a vida e com as pessoas em volta dela, frustrada nos relacionamentos pessoais, nos relacionamentos familiares, no trabalho ou com sua própria aparência etc). Assim deve-se tem muito tato para conversar com o médium para que ele não se sinta perseguido ou
constrangido (Normalmente o "médium fofoqueiro" e uma pessoa que se sente perseguida diante de qualquer problema, principalmente dentro daqueles que ela tenha provocado - isso é uma forma de auto-proteção ou fuga do problema. Também se sente constrangido por qualquer motivo e diz, gagueijantemente, que não foi ele/ela colocando a culpa em outrem
ou em ciúmes e invejas; chora copiosamente ou, em casos de fuga, se deixa receber um kiumba que diz que "vai levar, foi trabalho mandado ou algo do gênero", fazendo muito estardalhaço e sendo agressivo). No todo a conversa deve ser franca é concentrada no problema colocado e se a pessoa tem idéia do que fez, buscando-se sempre os motivos (coerentes ou não).
O "médium fofoqueiro" deve entender que aquele tipo de prática não pode existir dentro do terreiro, ficando claro que punições são cabíveis a esse tipo de prática, podendo chegar à expulsão. Caso as coisas tenham ido para o lado dos Guias do "médium fofoqueiro", os mesmos devem ser convocados e chamados a atenção, pois não estão cuidando do "cavalo"
devidamente, e, acima de tudo, estão permitindo o animismo e a falsa espiritualidade residirem no médium.
O sacerdote também deve buscar saber o estado espiritual e mental do médium para que ele possa ser tratado e/ou cuidado (se for espiritual no espiritual, o Guia chefe da casa deve ser consultado para ver o que pode ser feito em termos de descarregos, banhos, oferendas e/ou obrigações; se for no material/mental, deve-se indicar um Guia da casa para
acompanhar o médium, e, dependendo da gravidade do problema, um psicólogo, terapeuta ou mesmo um psiquiatra, deve ser recomendado).
O "médium fofoqueiro" deve ser sempre monitorado até que os problemas sejam sanados, e o bem estar volte à comunidade como um todo.
O trabalho espiritual é constante e não adianta acreditar que as coisas irão se resolver sozinhas ou pelo Astral Superior. Esse é um pensamento muito comodista, pois as coisas dos homens, em geral, são resolvidas pelos próprios homens ou com apoio e intervenção da espiritualidade através dos Guias. Se as coisas são deixadas de lado por medos vários,
elas tendem a crescer a um ponto do insuportável, onde acabamos tomando medidas ou posicionamentos extremos, onde poderíamos ter uma ação mais preventiva ou pró-ativa para evitar ou sanar os problemas.
Autor: Etiene Sales – GhostMaster –
Sacerdote Umbandistas e pesquisador na área de Ciência das Religiões.